O uivo de Danilo atravessou as matilhas como uma lâmina.

Não era apenas dor.

Não era apenas perda.

Era um som arrancado de um lugar mais antigo do que todos aqueles lobos reunidos.

Um som que fez o ar vibrar, a terra estremecer e o sangue de todos gelar.

Eu, acorrentada no centro do círculo, senti o impacto no peito como se tivesse sido atingida por dentro.

As correntes de prata ritualística apertaram meus pulsos quando tentei me mover — não por mim mesma, mas por ele. Meu corpo reagia por instinto ao sofrimento dele, à quebra emocional que rasgava o vínculo que, mesmo fraco, ainda nos mantinha ligados.

Os guardas das matilhas avançaram para conter Danilo.

Foi o maior erro que poderiam cometer.

Porque o uivo dele ainda não tinha sequer terminado de ecoar…

quando algo nele quebrou.

Algo antigo.

Algo profundo.

Algo que não era apenas lobo.

Eu vi.

O corpo dele começou a tremer, a pele vibrando com linhas negras que surgiam como rachaduras correndo sob a carne. A pelagem castanha