Acordei com o gosto da prata na língua.
Era como lamber gelo e prego ao mesmo tempo.
O primeiro impulso foi cuspir, mas a boca estava seca, a garganta arranhando como se eu tivesse engolido areia.
Abri os olhos devagar e a luz me feriu por dentro, uma claridade azulada que não era de fogo nem de dia, uma luz fria de lâmina lavada.
Eu estava deitada sobre pedra.
A pedra respirava umidade.
Por baixo dela havia algo vivo, um pulsar lento, como se o templo fosse um animal antigo, adormecido, que sonhava com sangue.
Meus pulsos ardiam. O metal que me prendia tinha gravado runas minúsculas, e cada uma delas parecia sussurrar uma ordem ao meu corpo: aquieta, rende, apaga.
Tentei mover as mãos. As correntes responderam com um som sombrio, oco, que se perdeu por corredores invisíveis.
Quando consegui erguer o rosto, vi o que me cercava.
Era um salão cavado na pedra, amplo e alto, com colunas que subiam como troncos de árvores fossilizadas. Entre elas, pequenas lamparinas de óleo com pavios azu