Capítulo 82

Acordei com o gosto da prata na língua.

Era como lamber gelo e prego ao mesmo tempo.

O primeiro impulso foi cuspir, mas a boca estava seca, a garganta arranhando como se eu tivesse engolido areia.

Abri os olhos devagar e a luz me feriu por dentro, uma claridade azulada que não era de fogo nem de dia, uma luz fria de lâmina lavada.

Eu estava deitada sobre pedra.

A pedra respirava umidade.

Por baixo dela havia algo vivo, um pulsar lento, como se o templo fosse um animal antigo, adormecido, que sonhava com sangue.

Meus pulsos ardiam. O metal que me prendia tinha gravado runas minúsculas, e cada uma delas parecia sussurrar uma ordem ao meu corpo: aquieta, rende, apaga.

Tentei mover as mãos. As correntes responderam com um som sombrio, oco, que se perdeu por corredores invisíveis.

Quando consegui erguer o rosto, vi o que me cercava.

Era um salão cavado na pedra, amplo e alto, com colunas que subiam como troncos de árvores fossilizadas. Entre elas, pequenas lamparinas de óleo com pavios azu
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