Capítulo 70

A caverna respirava junto conosco.

O fogo, baixo, lançava línguas de luz que lambiam as paredes de pedra e voltavam, dourando o ar num brilho morno.

A chuva do lado de fora havia dado lugar a um silêncio úmido, e era como se o mundo inteiro tivesse decidido se calar para ouvir apenas o som da nossa pele.

Eu ainda sentia o gosto do medo na boca.

O cheiro de terra, sangue e fumaça grudado no meu corpo.

Mas havia outro cheiro crescendo devagar, redondo, inevitável: o dele.

Quente. Amadeirado. Vivo.

Sentei-me de joelhos sobre a manta áspera e fiquei observando Danilo.

Ele respirava fundo, apoiado no cotovelo, o peito marcado pelas cicatrizes antigas, o abdômen subindo e descendo como mar de noite.

Havia suor no arco da clavícula, uma gota escorrendo lenta até o centro.

Segui a gota com os olhos e o corpo respondeu como se alguém tivesse acendido fogo por dentro.

A loba se agitou, faminta, mas lúcida.

É seguro. É nosso. É destino.

— Você está tremendo — ele disse, baixo.

— Estou vi
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