A noite parecia feita de prata.
Cada folha, cada sombra, cada gota de orvalho refletia a luz pálida da lua como se o mundo inteiro respirasse ao mesmo tempo que ela.
Fazia frio, mas o corpo queimava por dentro.
Desde o amanhecer, o sangue fervia de um jeito estranho, como se algo estivesse tentando sair, romper a pele, se libertar.
Passei o dia tentando fingir normalidade.
Andei pela floresta, procurei abrigo, bebi água do riacho, mas a cada passo o ar parecia mais pesado, o som do vento mais alto, o coração mais acelerado.
A loba se mantinha quieta, mas eu sentia sua tensão, o modo como ela observava o céu como quem aguarda um sinal.
Quando a noite caiu, não resisti.
Saí do abrigo e caminhei até o campo aberto.
O luar era forte demais, quase tangível.
Por um instante, tudo pareceu suspenso, o tempo, o som, até o ar.
Ajoelhei-me no meio da clareira e fechei os olhos.
A energia me envolveu de imediato.
Era como se mil fios invisíveis atravessassem o corpo, ligando-me ao céu.
Respirei f