Porto

Acordamos cedo.

Os empregados da mansão de Sir Hamilton Ford já estavam em movimento, carregando malas para a carruagem e cruzando os corredores com passos apressados. Clarissa prendeu o cabelo num coque improvisado, bonito, porque tudo nela parecia fazer questão de ser, e alisou a barriga ainda reta com aquela ternura instintiva que sempre me desmontava.

Descemos a encosta rumo ao porto. O ar da manhã era fresco, quase salgado. Lá embaixo, o Black Raven brilhava como se tivesse renascido: velas dobradas, cordas novas, madeira envernizada. Parecia pronto para engolir o mundo.

— Ele está bonito hoje — comentei.

— Ele sempre está — Clarissa respondeu. — Diferente de você de manhã.

— Você é insuportável.

— E você me ama — ela deu meu braço uma batidinha e ergueu uma sobrancelha grossa, traquina. — Agora… me diga. Você viu o William por aí? Será que já embarcou?

Revirei os olhos.

— Meu Deus, Clarissa. Eu não me importo.

— Ah, claro — ela falou num tom dramático, carregado de iro
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