Ofensas

Ele pareceu pensar, depois apontou com a cabeça para o corredor que levava ao convés.

— O ar lá fora está melhor. Quer ir?

Assenti.

Caminhamos juntos até o convés lateral. O vento frio bateu no meu rosto como um balde de água limpa. Encostei na amurada, respirando fundo.

Montenegro apoiou a caneca no corrimão, ao meu lado.

— Você dança bem — ele disse, com um sorriso leve.

— Não danço.

— Dança sim. Melhor que eu, pelo menos.

Ri da sua fala. O vento passou pelos meus cabelos, mas a trança bem amarrada nem mexeu.

— Não esperava te ver aqui hoje — falei por fim.

— Thomas me arrastou. Ele disse que eu estava “com cara de peixe morto”. — Montenegro fez aspas com os dedos. — Ele é insistente.

— Ele é — concordei.

Então, sem aviso, perguntei:

— Você e o William são… amigos?

Ele pareceu surpreso com a pergunta.

— Somos. Desde a guerra.

— Como você consegue?

Montenegro franziu o cenho.

— Como assim?

Engoli seco.

— Ele é… difícil. Frio. E às vezes… cruel.

Montenegro cruzo
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