Tinha uma frieza nos olhos que a deixou desconfortável, e o tom de voz seco e autoritário quase a fez querer sair correndo dali.
Mas ela precisava do emprego. O salário era muito acima da média, e ela não podia se dar ao luxo de re-cusar. — Sim, senhor. Eu entendo — disse com um sorriso hesitante, tentando contornar o clima tenso. — Só queria confirmar para me organizar melhor... Joaquim a olhou como se ela estivesse lhe tomando tempo demais. — Organize-se depois. Agora, vá cuidar da criança. — Claro, senhor — disse ela rapidamente, sentindo o rosto corar. Alina baixou os olhos, tentando esconder o rubor no rosto. Ela não podia perder aquele emprego, mesmo que o patrão fosse um homem grosseiro e indiferente. O salário era bom demais para recusar – e ela mal conseguia pagar o aluguel do minúsculo apartamento onde morava. Um lugar abafado e mal iluminado, com infiltrações nas paredes e um vizinho barulhento que não a deixava dormir. Mesmo assim, o valor era absurdo para o que oferecia, mas era o único que ela conseguia pagar com os bicos de babá e faxina. “Eu preciso disso…”, pensou, apertando os dedos trêmulos ao segurar sua bolsa. Joaquim apertou um botão chamando uma funcionária que não demorou nem 2 minutos para aparecer. Quando a funcionária da casa indicou o caminho, Alina respirou fundo e seguiu até o quarto da criança. Assim que a porta se abriu, a tensão em seu corpo diminuiu um pouco. No berço, dormia uma menininha de cabelos castanhos claros, com as bochechas redondas e rosadas. A visão dela acalmou Alina de um jeito que nem ela esperava. “Ah, você é um anjinho”, pensou, inclinando-se para observar a bebê. Isabela se mexeu levemente, resmungando no sono, mas logo voltou a respirar suavemente. Alina ficou ali, observando-a, sentindo um calor suave no peito. Talvez cuidar dela fosse menos difícil do que lidar com o pai. Ela sabia que teria que medir cada palavra e gesto para não provocar a ira de Joaquim. Mas, naquele momento, ao olhar para Isabela, sentiu que valeria a pena tentar. Alina entrou no quarto que a funcionária lhe indicara e ficou surpresa. O cômodo era grande, simples, mas muito bonito. As paredes eram pintadas de um tom bege suave, e uma janela ampla deixava entrar a luz do final da tarde, revelando uma pequena vista para o jardim bem cuidado. Havia um banheiro anexo, e uma escrivaninha com uma cadeira confortável. Contra a parede, um guarda-roupa espaçoso, que sobraria espaço para suas poucas roupas. Suspirou, colocando sua bolsa na cama arrumada, com lençóis limpos e uma colcha macia. Retirou as roupas da bolsa e as acomodou no armário com cuidado. Apesar da ansiedade e do medo que sentia ao imaginar a convivência com Joaquim, não pôde deixar de se sentir um pouco aliviada ao perceber que, pelo menos, o quarto seria um refúgio confortável. “Vai ser difícil...”, pensou, dobrando uma blusa e a colocando no armário quase vazio. “Mas eu não tenho escolha. Preciso do dinheiro. Preciso desse emprego. ” A lembrança do aluguel caro e do apartamento insalubre onde vivia voltou à mente. Pelo menos ali, teria um teto seguro, comida garantida e um salário. A imagem de Isabela, com aquelas bochechas rosadas e o sono tranquilo, surgiu em sua mente. Cuidar da pequena parecia um fardo mais leve do que lidar com a frieza do pai. Talvez a menina fosse a chave para ela suportar a rotina ali. Com a última peça de roupa no armário, Alina se sentou na beira da cama, observando pela janela o jar-dim iluminado pela luz dourada do entardecer. Sentiu um aperto no peito, misto de ansiedade e determi-nação. “Eu vou conseguir... só preciso me manter firme e fazer meu trabalho”, prometeu a si mesma. Assim que Alina terminou de organizar suas poucas roupas no quarto, respirou fundo e foi para o quarto de Isabela conhecer melhor o espaço onde passaria boa parte do seu tempo. O cômodo era enorme e decorado com um bom gosto que deixava evidente o carinho, ou ao menos o in-vestimento, que haviam colocado ali. As paredes eram pintadas em tons suaves, com detalhes em rosa e branco, e os móveis, de madeira clara, criavam um ambiente acolhedor. Havia um tapete macio no centro, brinquedos organizados em prateleiras e uma poltrona confortável próxima ao berço. O closet era espaço-so e muito bem organizado dentro do closet tinha um banheiro grande e espaçoso, Alina admirou cada de-talhe e pensou que o pequeno apartamento onde viveu caberia ali dentro tranquilamente.