Mas o que mais chamou sua atenção foi o quarto anexo: uma pequena salinha conectada ao quarto da bebê, com uma cama de solteiro simples, uma escrivaninha e uma poltrona. Era claramente pensado para a babá passar o tempo durante o horário de serviço, sem precisar se afastar da criança.
“Uau… isso é mais luxuoso do que tudo que já tive”, pensou Alina, admirada. Com um sorriso leve, ajeitou uma pequena manta sobre a poltrona do quarto anexo e se sentou ali, sen-tindo o coração se acalmar. Do seu assento, podia ver Isabela dormindo profundamente no berço, com as bochechas rosadas e a respiração tranquila. “Vou esperar ela acordar”, decidiu, olhando a menina com ternura. Afinal, se havia algo que a fazia querer enfrentar a frieza do pai, era aquela garotinha indefesa e adorável. O tempo parecia passar lentamente enquanto Alina observava Isabela dormir. O leve som da respiração da bebê, junto com a tranquilidade do quarto, trazia uma paz que ela não sentia há muito tempo. Então, um leve movimento no berço chamou sua atenção. Isabela resmungou, virou o rostinho para o lado e abriu os olhinhos castanhos, piscando devagar como se ainda estivesse sonolenta. Alina se levantou da poltrona com cuidado e caminhou até o berço, inclinando-se levemente para que a criança pudesse vê-la. — Oi, princesa — disse com a voz suave, um sorriso tímido nos lábios. — Dormiu bem? Isabela a fitou com um olhar curioso, como se estivesse tentando entender quem era aquela mulher nova. Alina estendeu a mão, deixando os dedos próximos para que a bebê pudesse tocá-los. Para sua surpre-sa, Isabela segurou um de seus dedos com a mãozinha gordinha, soltando um som baixo, quase como um balbucio. — Ah, você é um docinho — murmurou Alina, encantada. A garotinha então soltou um leve risinho e, sem aviso, estendeu os bracinhos, como se pedisse colo. O gesto desarmou Alina completamente. Ela a pegou com cuidado, sentindo o corpinho pequeno e quente aninhar-se contra o peito. Enquanto embalava Isabela, sussurrou: — Vamos ser boas amigas, tá bem? Eu vou cuidar muito bem de você… Enquanto embalava Isabela, Alina não percebeu a sombra que se formava na porta. Joaquim estava ali, observando em silêncio, com os braços cruzados e a expressão fechada. Ele não fazia ideia de por que havia parado para olhar aquela cena, mas algo o fez permanecer ali por alguns minutos, sem ser notado. A forma como Alina segurava sua filha – com tanto cuidado, com tanto carinho – o incomodava. Ele odia-va admitir que, mesmo com a presença recente dela na casa, Isabela já parecia mais calma, menos cho-rosa. Mas, tão rápido quanto a cena começou, Joaquim se afastou sem fazer barulho, voltando para seu escri-tório e resgatando o semblante frio e indiferente que usava como armadura. Alina, sem perceber a presença dele, continuou embalando Isabela e sussurrou: — Vamos fazer dar certo, pequena. Eu prometo. Já era o fim da tarde quando Joaquim entrou no quarto da filha sem bater e viu Alina segurando a menina, embalando-a com um leve sorriso. A visão o deixou desconfortável. Por um momento, o olhar dele se de-teve no corpo da jovem – a curva delicada da cintura, o pescoço exposto, o jeito como os cabelos averme-lhados escapavam do coque e tocavam a nuca. O pensamento foi rápido, quase involuntário, mas ele lo-go o afastou com irritação. — Pode deixá-la comigo. — A voz dele cortou o ar. Alina se virou de repente, um pouco nervosa. — Eu vou ficar com Isabela agora. Pode se retirar e só voltar amanhã. Ela hesitou, com a bebê ainda nos braços. — Ah… claro, senhor Joaquim — disse, entregando Isabela com delicadeza. Enquanto saía do quarto, ainda com o coração acelerado pela presença imponente dele, encontrou a go-vernanta, a senhora Alice no corredor, Alina ainda não tinha tido a oportunidade de conversar com os outros funcionários. A mulher era uma senhora baixa e rechonchuda, com cabelos grisalhos presos em um coque simples. Os olhos castanhos irradiavam calor e sabedoria. — Oi Alina, como foi seu primeiro dia? — disse Alice, com um sorriso gentil. — Alina sorriu, sentindo uma pontada de alívio com a simpatia da mulher. — Deu tudo certo… — Vou te passar algumas instruções, querida. — Alice colocou a mão no braço de Alina com delicadeza. — A cozinha fecha às nove, mas se precisar de alguma coisa, pode me procurar. O senhor Joaquim gosta que tudo esteja em ordem, principalmente com a pequena Isabela. Não se preocupe com a bagunça, eu te ajudo. E, ah, ele tem os horários dele... volta sempre no mesmo horário para ver a menina. É um homem de hábitos, apesar do jeito um pouco… — ela fez uma pausa diplomática — ...intenso.