Alina também sentia. Bastava um toque a mais, um segundo de descuido, e se perderia nele. Mas havia medo. De se entregar. De se machucar. De perder o que mal havia começado.
Quando seus dedos se tocaram ao trocar Isabela de colo, foi como eletricidade. Mas nenhum dos dois se atreveu a ir além. Ainda não. Joaquim saiu para jantar com Rafael, seu melhor amigo e sócio. Ao falar sobre Alina, Rafael ergueu uma sobrancelha. — Você já está envolvido. A questão é: vai continuar fugindo ou vai admitir? — Não posso me permitir esse erro de novo. — E se não for erro? As palavras ficaram ecoando em sua mente. Na volta para casa, ele parou diante da porta do quarto de Alina. Quase bateu. Mas desistiu. Ainda não. Num final de tarde, Alina escorregou no jardim molhado. Joaquim correu para socorrê-la. Segurou-a nos braços, o coração disparado. Quando os olhos se encontraram, foi inevitável. Ele a puxou para si e a beijou. Foi intenso, desesperado, cheio de sentimentos reprimidos. Mas assim que terminou, Alina se afastou, confusa e assustada. — Isso não devia ter acontecido — sussurrou ela, antes de correr para dentro. Joaquim ficou parado, com os lábios ainda queimando. Tarde demais para voltar atrás. Nos dias que se seguiram, Alina evitou Joaquim. O beijo havia despertado nela tudo o que sempre tentou esconder: o desejo de ser amada. Mas era errado, não era? Ela era a babá. Ele, seu patrão. Um pai marcado por um abandono. Joaquim respeitou a distância. Mas doía. Vê-la todos os dias, tão perto e ao mesmo tempo intocável. Ambos estavam presos no mesmo dilema: seguir o coração ou preservar a estabilidade. Numa noite chuvosa, Joaquim a esperou na sala. — Alina, precisamos conversar. Ela hesitou, mas sentou-se à sua frente. — Não consigo fingir que aquele beijo não aconteceu. E não me arrependo. — Joaquim… — Só quero saber se você sente o mesmo. Porque, se sentir, vou lutar por isso. Por nós. Alina olhou para ele, os olhos marejados. — Eu sinto. Mas tenho medo. De perder o emprego. De confundir Isabela. De me machucar. — Eu também tenho. Mas estou disposto a arriscar. Naquela madrugada, Alina foi até o escritório. Joaquim ainda estava lá, de pé junto à janela. Ela entrou sem dizer nada. — Eu também não quero mais fugir — ela disse, firme. — Se você estiver comigo… de verdade. Ele a puxou com delicadeza e a beijou, desta vez com ternura. O mundo podia esperar. Na manhã seguinte, Joaquim acordou com Alina ao seu lado no sofá, adormecida, com Isabela aninhada entre eles. Era como se o lar que ele achava perdido tivesse sido reconstruído. Ele sorriu, beijou a testa de ambas e sentiu, pela primeira vez em muito tempo, que estava onde devia estar. Joaquim e Alina decidiram viver o romance discretamente. Para a casa, nada havia mudado. Mas para eles, tudo havia. Joaquim era mais leve, sorria mais. Alina se sentia segura, amada, parte de algo que jamais teve. Isabela, sem saber, era o elo entre os dois. Mas o mundo lá fora não era tão generoso. E logo, os rumores começaram. Funcionários da empresa começaram a comentar. O CEO envolvido com a babá? Era escândalo para muitos. Rafael o alertou. — Vai precisar ser forte. Isso pode afetar sua imagem, Joaquim. — Não me importo com a imagem. Me importo com elas. Mas ele sabia: o que vinha pela frente testaria sua coragem e seu amor. Clara voltou a aparecer. Não queria Isabela por amor — mas por orgulho. Por vingança. — Ou você me dá parte da guarda… ou faço um escândalo com sua nova “namoradinha”. Joaquim segurou a raiva. — Você abandonou nossa filha. Não vai usá-la para me chantagear. Mas sabia que Clara era capaz de tudo. E agora, proteger Alina e Isabela não era só uma escolha. Era sua missão. Joaquim contratou os melhores advogados para impedir que Clara obtivesse qualquer direito sobre Isabela. Ele estava determinado a proteger a filha… e Alina. — Ela não vai nos separar — ele disse, segurando a mão de Alina. — Prometo. Alina, embora assustada, sabia que não estava mais sozinha. E isso fazia toda a diferença. As fotos começaram a circular: Joaquim e Alina juntos no parque, no carro, entrando em casa. A imprensa transformou o caso em escândalo. Manchetes como “CEO milionario se envolve com babá” tomaram conta das redes. Joaquim, furioso, deu uma declaração pública. — Minha vida pessoal não é um produto de entretenimento. Alina é parte da minha família. E quem desrespeitá-la, desrespeita a mim. Alina se emocionou. Pela primeira vez, alguém a defendia em voz alta. Para fugir do caos, Joaquim levou Alina e Isabela para uma casa de campo por alguns dias. Lá, longe de tudo, viveram seus momentos mais íntimos. Passeios ao pôr do sol, risadas ao redor da lareira, beijos roubados entre as árvores. — Aqui, parece que o mundo não nos alcança — disse Alina. — Aqui, somos só nós — respondeu ele. Mesmo em meio à paz, o medo crescia dentro de Alina. E se tudo desmoronasse? E se Joaquim se arrependesse? Ela vinha de uma vida de abandono. Era difícil confiar que alguém ficaria para sempre. Joaquim percebeu a inquietação dela e a abraçou. — Eu não sou como os outros. Não vou te deixar. E ela quis acreditar. Mais do que tudo. Ao voltarem à cidade, os problemas os aguardavam. A audiência pela guarda de Isabela se aproximava. Clara contratara um advogado agressivo, disposto a tudo. Além disso, um acionista da empresa de Joaquim ameaçava tirá-lo do comando, alegando “conduta inadequada”. Ele estava cercado. Mas não recuaria. Joaquim sentou-se com Alina à noite e a olhou nos olhos. — Vai ser difícil. Mas eu preciso que confie em mim. Não importa o que digam, o que inventem. Eu escolhi você. Ela assentiu, emocionada. — Eu escolhi você também, Joaquim. Desde o primeiro dia em que vi você segurando Isabela com tanto amor.