Capitulo 4

Alina assentiu, absorvendo cada palavra, tentando manter a calma.

— Vou me esforçar, senhora Alice. Quero fazer tudo certo.

— Tenho certeza que sim, minha querida.

Ela fez uma pausa antes de acrescentar com um tom um pouco mais sério:

— Ah, e outra coisa… Só frequente os cômodos de convivência da casa, aqueles relacionados à rotina de Isabela. Evite passear pelos outros espaços, principalmente o escritório do senhor Joaquim. Ele preza muito pela privacidade dele, e não gosta de interrupções.

Alina sentiu um frio na barriga e assentiu rapidamente. — Entendi. Pode deixar, senhora Alice. Vou fazer tudo direitinho.

— Tenho certeza de que sim, minha querida. — Alice lhe deu um leve tapinha no braço, voltando a sorrir. — Vou te ajudar no que precisar.

Quando a governanta se afastou, Alina ficou ali parada por um momento, processando tudo. O olhar gela-do de Joaquim, a voz doce de Alice e a advertência sobre o escritório pareciam ecos em sua mente.

Enquanto a jovem se dirigia de volta para seu quarto, não pôde deixar de pensar no olhar frio de Joaquim, no jeito como ele segurava a filha com um carinho disfarçado por trás de toda a dureza. E na forma como, mesmo sem querer, ele a deixava desconcertada.

Um mês havia se passado desde que Alina chegara à casa dos Albuquerque. Durante esse tempo, tudo havia corrido relativamente bem. Ela cuidava de Isabela com dedicação e evitava qualquer interação des-necessária com Joaquim, limitando-se a conversas formais e rápidas, sempre em tom respeitoso e distan-te. Ele, por sua vez, parecia satisfeito com a eficiência e discrição da nova babá, embora seu olhar gélido ainda a deixasse desconfortável.

Naquela noite, no entanto, algo quebrou a rotina.

Alina acordou sobressaltada ao ouvir o choro abafado vindo do quarto de Isabela. Com o coração acele-rado, levantou-se da cama e, descalça, correu para o quarto da criança. A garotinha chorava desconsola-da, enroscada em seu cobertor. Alina a pegou no colo, embalando-a com palavras suaves e carinhosas. Aos poucos, Isabela foi se acalmando, soluçando baixinho contra o peito de Alina até, finalmente,

ador-mecer de novo.

Exausta, Alina a colocou de volta no berço, certificando-se de que estava bem. Mas, antes de voltar para a cama, sentiu a garganta seca. Decidiu descer até a cozinha para beber um pouco de água.

Vestia apenas um pijaminha curto de algodão, os cabelos soltos caindo pelos ombros, e caminhava des-calça pelos corredores silenciosos da mansão. Quando chegou à cozinha, parou de repente.

Joaquim estava lá, encostado no balcão com um copo de uísque na mão. Ele a observou por cima do co-po enquanto dava um gole lento, os olhos se estreitando.

Por um instante, o silêncio entre eles pareceu mais pesado do que nunca. Alina sentiu o rosto esquentar ao perceber a maneira como ele a olhava — não era hostil, mas também não era exatamente acolhedora. Era um olhar que ela não conseguia decifrar, misto de tensão e curiosidade.

— Não conseguia dormir? — Perguntou ele, a voz rouca pelo álcool e pela hora.

— Isabela estava chorando… fui ver o que era. — Ela desviou o olhar, sentindo-se exposta demais de pi-jama e com os cabelos desgrenhados.

— E agora está aqui… — ele murmurou, erguendo o copo. — Desculpe, se assustei.

— Ah, não… não foi nada — disse Alina, a voz baixinha. — Eu só… só vim beber um copo de água.

Hesitou por um momento, depois fez um gesto educado com a cabeça. — Com licença, senhor Joaquim. Vou me recolher.

Ele apenas a observou enquanto ela se retirava apressada da cozinha, sentindo o olhar dele queimar em suas costas mesmo quando já estava fora de vista.

Lá em cima, no corredor escuro, Alina encostou-se por um momento na parede, tentando acalmar a respi-ração. Não sabia o que havia naqueles olhos dele que a deixavam tão desconcertada, mas uma coisa era certa: por mais que tentasse manter a distância, havia algo naquela casa — e naquele homem — que co-meçava a mexer com ela.

Joaquim permaneceu na cozinha, o copo de uísque ainda firme na mão. Observou a porta pela qual Alina havia desaparecido, a imagem dela gravada em sua mente: o pijaminha curto, os cabelos soltos, a ex-pressão entre tímida e determinada. Havia algo naquela garota que ele não conseguia definir. Não era apenas a aparência física, embora fosse evidente que ela era bonita, com um jeito simples e natural que destoava do mundo polido e artificial ao qual ele estava acostumado.

Mas era mais do que isso. Era o jeito como ela se comportava — discreta, mas firme. Sempre cuidadosa com Isabela, nunca ultrapassando os limites impostos. Nunca uma palavra fora do tom, nunca um gesto que sugerisse algo além do necessário.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App