A Noiva em Silêncio

Rafaella entrou na sala de estar da mansão dos Souza com passos firmes, o rosto tenso e o coração em chamas. A conversa que precisava ter não podia esperar.

Mário e Estela estavam sentados lado a lado. Ele, sério como sempre. Ela, com o olhar baixo e os dedos entrelaçados. Quando Rebeca entrou atrás da irmã, o ambiente ficou ainda mais pesado.

— Eu não vou me casar com o Bruno. — Rafaella disse com a voz decidida, mas embargada. — Isso é loucura. Isso é errado.

Estela levantou os olhos e as lágrimas brilharam em seu rosto.

— Filha…

— Mãe, por favor, me apoia nisso. Vocês sempre disseram que me amavam, que queriam minha felicidade. Isso aqui não é felicidade. É uma prisão!

— Rafaella… — Mário começou, respirando fundo. — Isso não é sobre o que você quer. É sobre o que todos nós precisamos.

— “Todos nós”? — ela repetiu, sentindo a garganta fechar. — Eu sou um peão nesse jogo, é isso?

— Não fale assim. — Mário levantou-se. — Você nasceu numa família que carrega o peso de decisões maiores que os próprios desejos. As alianças estão feitas. O país precisa dessa união. O sistema político, os bastidores do poder… tudo depende de equilíbrio. E seu casamento com Bruno é parte disso.

Rafaella olhou para Rebeca, suplicando por apoio.

— Isso não está certo, Beca. Diz alguma coisa!

Rebeca não hesitou. Deu um passo à frente, ficando ao lado da irmã.

— Isso é uma barbaridade, pai. A Rafa tem razão. Ninguém pode ser forçado a se casar, ainda mais com alguém como o Bruno. Ele não a ama. E ela o teme. Isso é cruel.

Mário olhou para as duas filhas. Por dentro, seu coração se partia. Mas a voz que saiu dele foi fria como ferro.

— Cruel é perder tudo o que construímos. Cruel é ver nossa família sendo esmagada por alianças que não controlamos. Eu dei minha palavra, Rebeca. E minha palavra vale mais do que qualquer sentimento.

— Você está vendendo a sua filha! — Rebeca gritou.

Estela chorava em silêncio, impotente.

Rafaella sentiu como se tivesse levado um soco. O mundo girava, as paredes pareciam apertar. Não havia saída. Não havia esperança.

O dia do casamento amanheceu cinzento, como se o céu também estivesse de luto. Rafaella foi vestida como uma princesa, em um vestido branco rendado, com um véu que mais parecia um véu de luto do que de amor.

Ela não sorriu uma única vez.

Rebeca ficou com ela o tempo todo, segurando sua mão, enxugando as lágrimas, tentando oferecer um conforto que não bastava.

— Ainda dá tempo de fugir — sussurrou Rebeca, em tom de brincadeira triste.

— Fugir pra onde, Beca? Meu destino tá selado. Eles venceram.

A cerimônia foi íntima. Apenas os mais influentes estavam presentes. Políticos, empresários, juízes. Era um casamento político, estratégico, com alianças sendo renovadas em cada aperto de mão, em cada olhar silencioso.

Bruno estava impecável no terno cinza escuro, impassível como sempre. Quando Rafaella entrou, com os olhos vermelhos e o rosto sem expressão, ele a observou em silêncio.

Ela mal conseguia olhá-lo nos olhos. Repetiu os votos com voz trêmula, como se dissesse palavras em uma língua estrangeira. O beijo foi frio, quase protocolar. E o aplauso no final foi mais por alívio do que por celebração.

Poucas horas depois, ela estava dentro do carro preto que a levaria com Bruno para o interior de São Paulo. Uma fazenda imensa, isolada, longe da imprensa, da sociedade, da própria família. Longe de tudo o que conhecia.

— Vai ficar tudo bem. — Bruno disse no banco ao lado, sem olhar diretamente para ela.

Rafaella não respondeu.

O caminho era longo, e o silêncio entre eles era ainda mais.

Do outro lado da janela, a paisagem mudava: prédios se tornavam campos, ruas viravam estradas de terra. E ela sentia que, com cada quilômetro, perdia mais de si.

Quando chegaram à propriedade, Rafaella desceu do carro sem dizer uma palavra. Era linda, mas sombria. Um castelo de luxo e solidão. A casa dos Santos no interior.

Lá dentro, o quarto estava preparado. Um banheiro com banheira, cama imensa, flores caras. Tudo muito elegante. Tudo muito vazio.

E naquele silêncio, Rafaella deitou-se no chão frio do banheiro. Chorou como nunca havia chorado antes. Chorou por si, pela irmã, pela mãe calada, pelo pai endurecido. E pela certeza de que estava casada com um homem que ela não amava… e talvez nunca fosse capaz de amar.

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