O telefone tremulou sobre a mesa como se carregasse uma ameaça viva. Narelle não queria atender, mas sabia que se não o fizesse ele acabaria ligando de novo — ou aparecendo pessoalmente.
Quando atendeu, a voz de Kael surgiu tão serena que pareceu um insulto.
— Finalmente. Pensei que fosse me ignorar a noite toda.
— Eu devia — ela retrucou, esforçando-se para manter o tom firme. — Mas chega. Isso que você está fazendo... envolver o Luxor nesse jogo é desleal.
Kael ficou em silêncio por alguns segundos. Ela podia imaginá-lo, sentado em alguma sala de vidro, as luzes refletindo nos olhos claros, o rosto impassível. Quando ele falou, a voz saiu num tom frio que carregava outra espécie de violência:
— Desleal? — Ele soltou um riso seco. — Você quer mesmo falar de deslealdade comigo?
— Estou falando do menino. Ele não tem culpa do que aconteceu entre nós.
— Não tem, de fato. — O silêncio se prolongou, pesado, até ele soltar o ar devagar. — Mas já que estamos nomeando pecados, vamos nomear