RENZO ALTIERI
Faltava pouco mais de uma hora para pousarmos em solo italiano. Eu podia sentir a ansiedade escorrendo por cada poro, mas não era o tipo de ansiedade que me fazia roer as unhas ou bater o pé no chão. Era aquela inquietação silenciosa que fazia meus pensamentos latejarem atrás da máscara — lembranças se misturando com planos, ódio e amor se enroscando como cobras num poço escuro.
Estava sentado na poltrona de couro, o tablet desligado sobre a mesinha. A matéria ainda pulsava na minha cabeça. Mais de cinquenta corpos, sem cabeça, expostos como aviso. Fiz exatamente o que deveria fazer. Nenhuma pontinha de culpa. Nenhuma hesitação.
Eu teria feito tudo de novo.
Inclinei a cabeça para trás, fechei os olhos por um instante. Vi a imagem dele.
Meu filho.
Aquele rostinho sujo, a pele marcada, os olhos tão parecidos com os meus quando eu era garoto. Medo. Vergonha. E uma inocência arrancada à força por monstros engravatados que se achavam donos do mundo.
Eles acharam que iam vive