Vozes Queimadas
A sala de estar da pequena casa exalava mofo e silêncio. Caleb sentia o peso dos anos depositado nos móveis antigos, nas cortinas opacas, nos olhos do homem à sua frente. Dr. Orlando Ferraz, outrora respeitado, agora parecia uma sombra do que fora.
Mas bastou que o nome de Francine fosse pronunciado para a chama do passado arder em seu olhar.
— Ela me usou...
Me ameaçou...
Começou ele, com a voz rouca e amarga.
— Eu estava fragilizado. Afastado por questões éticas, sim. Mas não era corrupto!
Até que ela apareceu.
Caleb mantinha os olhos fixos no médico, cada célula do corpo em alerta.
— Disse que podia limpar meu nome, conseguir recomendações. Bastava assinar alguns laudos, validar cancelamentos. Tudo parecia inocente no início
— Exames que “não eram urgentes”, pacientes com “histórico familiar compatível”.
—Mas logo ficou claro. Os cancelamentos eram estratégicos.
—Ocultavam algo maior.
— E Sofi? A voz de Caleb saiu como um sussurro desesperado.
— Ela foi um