O cheiro de café preenchia a casa quando Clara desceu as escadas envolta no casaco de moletom que Sol havia deixado dobrado na cadeira. Os pés descalços tocaram o chão frio de madeira, e ela foi guiada por sons suaves vindos da cozinha.
André cantarolava em francês — algo sobre manhãs e flores, talvez — enquanto colocava duas canecas lado a lado. Sorriu quando a viu.
— Dormiu bem?
— Dormi. — ela respondeu, sincera. — Acho que o silêncio aqui me ajuda a descansar.
— Aqui o silêncio é programado, quase sagrado. E tem café fresco também.
Ele entregou a caneca com um gesto gentil. Clara agradeceu com um sorriso pequeno.
Sol apareceu segundos depois, ainda com o rosto semi-amarrotado do travesseiro e um coque torto no alto da cabeça.
— Tem planos pra hoje? — perguntou, bocejando.
Clara hesitou. Quase disse “não sei”. Mas então lembrou do envelope guardado dentro do caderno.
A carta.
Ainda fechada.
Guardada desde que Elias a entregou, alguns dias antes. Ela ainda não soubera como, ou quando