A manhã acordou cinza.
O tipo de cinza que não entristece — só convida ao recolhimento.
Clara abriu os olhos devagar, sentindo o peso do cobertor, o calor do corpo de Noah ainda adormecido ao lado, e o som ritmado da chuva fina batendo contra a janela.
Ela ficou ali por alguns minutos.
Não porque estivesse cansada.
Mas porque não havia pressa alguma.
— Tá chovendo? — Noah murmurou, ainda de olhos fechados.
— Tá.
E acho que vai o dia inteiro.
— Melhor notícia da semana.
Ela riu.
— Quer café?
— Só se vier com você.
Fizeram o café juntos.
Ela mexendo o leite na panela como gostava — no fogão, com colher de madeira —, ele preparando a prensa francesa e cortando pedaços de pão fresco, comprado na tarde anterior.
A playlist do sábado tocava Norah Jones, depois Damien Rice, depois silêncio.
Eles dançaram pequenos gestos na cozinha:
um beijo entre xícaras,
um encostar de costas,
uma mão que passava pela cintura como quem diz “tô aqui”.
Na sala, sobre a mesa baixa, estavam os primeiros rascunh