No piso superior, o corredor se desdobrava em um grande hall, como um abraço silencioso que convidava ao desconhecido. Sofás acolhedores, pufes macios e plantas cuidadosamente dispostas conferiam ao espaço uma aura de serenidade. Alis podia ouvir vozes ao longe, mas elas flutuavam no ar como murmúrios indecifráveis, sem revelar sua origem. Com passos hesitantes, percorreu o corredor iluminado por uma luz suave.
A primeira porta estava entreaberta, e Alis espiou por uma fresta tímida. O quarto era vasto, quase imponente, com uma cama no centro, onde repousava um paletó dobrado com precisão. Havia ali outra porta, também entreaberta, de onde escapava uma fina névoa de vapor. Alis deduziu que alguém estava no banho. Seria aquele o quarto do marido de Liz?
Quase em frente, do outro lado do corredor, uma porta menor exibia uma placa alegre e colorida com letras que formavam o nome: Lucas Jr. A foto de uma carinha infantil sorria ali, convidativa. Alis sorriu de volta, imaginando o sobrinho — Lucas Trevor Jr. — e como aquele espaço deveria ser cheio de risos e brincadeiras, tão diferente de seu casebre onde vivia com Brade, cujas paredes contavam histórias sombrias de violência e humilhação.
Ao alcançar a terceira porta, abriu-a com cuidado e fechou-a atrás de si. Não precisou procurar muito para saber que era o quarto de Liz. Sobre a escrivaninha repousava uma coleção de fotografias, todas retratando sua irmã em diferentes momentos de felicidade e glamour. Contemplando aquelas imagens, Alis sentiu uma saudade avassaladora de sua irmã, o desejo de conversar, de dividir segredos e ouvir as histórias que a distância silenciara desde a infância. A vida de Liz parecia perfeita, um conto de fadas real — ou assim Alis queria acreditar.
Ela olhou em volta, memorizando cada detalhe do quarto. Tudo ali transbordava beleza e ordem. A cama, grande e imponente, rivalizava com a do aposento ao lado. Duas portas chamavam sua atenção: uma levava a um banheiro luxuoso, onde uma banheira gigante reinava no centro, e a outra, a um closet transbordante de roupas, sapatos, joias e vestidos que mais pareciam sonhar com noites de gala.
Escolhendo uma camisola longa e rosa e um roupão marrom de mangas compridas, Alis decidiu tomar banho. Não resistiu à banheira majestosa. Perdeu um bom tempo tentando decifrar suas torneiras: uma vertia água quente, outra, fria, e uma terceira liberava uma essência perfumada que transformava a água em um mar de bolhas cintilantes.
Naquele instante, sentiu-se transportada para outro mundo. Nunca em sua vida havia experimentado algo tão indulgente. Brincou com as bolhas como uma criança e rendeu-se ao prazer daquele banho. Quando finalmente saiu, notou que o corretivo e a base que Liz passara sobre suas marcas haviam se desfeito na água. As manchas roxas, que eram como assinaturas do temperamento brutal de Brade, reapareceram, trazendo memórias dolorosas.
O coração de Alis apertou-se de angústia ao pensar em Liz. Seria ela capaz de lidar com um homem tão cruel? Tão refinada e graciosa, Liz parecia frágil para enfrentar algo assim. Uma culpa pesada ameaçava sufocá-la.
O pensamento roubou-lhe a paz, e ela começou a andar de um lado para o outro no quarto. Não resistiu e pegou o celular, discando o número da irmã. Liz demorou um pouco para atender.
— Por que você ligou? Não te disse que era só para emergências? — A voz de Liz soou ríspida, mas mantinha um tom baixo, quase sussurrado.
— Irmã, fiquei preocupada com você... — respondeu Alis, a voz embargada de emoção. Ela temia falhar na missão que Liz lhe confiara. — Brade já chegou?
— Já. Chegou, comeu e agora está desmaiado no sofá. Não quero acordá-lo. Desliga o celular.
— Tem certeza de que está bem? Se quiser, posso ir até aí...
— Alis, desliga. Preocupe-se com você, não comigo.
— Mas Liz, você precisa...
Antes que pudesse terminar, a ligação foi encerrada.
Alis ficou parada, o telefone ainda em mãos, tentando digerir as palavras. Liz parecia bem, pelo menos na superfície. Era uma mulher brilhante, inteligente. Certamente saberia lidar com Brade. Mas por que, então, o coração de Alis estava tão apertado?
Sua missão apenas começara, mas o peso dela já se fazia sentir como uma sombra persistente.