Algumas horas depois, a cabeça de Alis parecia estar estourando com a quantidade de informações que precisava memorizar. No banco de trás da limusine, as duas recém conhecidas irmãs combinavam os últimos detalhes da troca.
- Por que você chama seu marido de Brade? – perguntou Liz, olhando para o pequeno casebre que sua irmã dividia com o marido. Teria que passar alguns dias naquela pocilga que Alis chamava de casa. Pelo menos, estaria a salvo.
- É o sobrenome dele. Hamilton Brade. Porém, no trabalho o chamam de Brade. Quando éramos adolescentes, eu costumava chamá-lo de Milton, porém, ele fica muito agressivo quando faço isso, por isso, é melhor chama-lo de Brade. Liz... Brade pode ser realmente muito, muito, agressivo. Tenho medo de deixar você no meu lugar. Eu aprendi a lidar com ele...mas você...?
Alis ainda hesitava. No início do seu casamento com Brade, tudo foi maravilhoso, mas quando ele começou a trabalhar na Polícia, sua personalidade foi lentamente mudando. Tinha medo do que poderia acontecer com Liz se Brade descobrisse a troca.
- Uhm... não se preocupe... de qualquer forma, vamos trocar nossos celulares. Se eu tiver algum problema, eu ligo. Mas vai ficar tudo bem. Que mais eu preciso saber?
- Eu sou professora de artes, mas agora, tenho ficado mais na coordenação escolar. Você já conhece minha sala. A diretora da escola se chama Ana Maria Koling. Ela é minha melhor amiga, então, se ela começar a desconfiar de você, você pode contar a verdade a ela. Ela vai guardar esse segredo. Ela sempre me ajuda quando eu preciso.
- O que mais? – perguntou Liz. Ela já sabia praticamente TUDO da vida de Alis, porque o detetive que contratara para encontrá-la já havia feito um relatório completo, mas não iria contar isso a Alis. - Bem, é isso. Não sou de sair, nem de socializar. Só converso com os estudantes, os pais dos estudantes, quando precisam de algum conselho, então, você não deve ter problemas no trabalho. É isso... minha vida é muito simples. Bem mais simples do que a sua. – reclamou Alis, olhando para as fotos sobre o seu colo. Parecia que sua irmã estava planejando aquela troca a mais tempo, pois havia tirado foto de todas as pessoas ao seu redor. – Não sei se vou me lembrar de todas essas pessoas.- Apesar de ter uma vida social bem movimentada, minha família é bem pequena também. Eu, minha mãe, meu irmão, meu marido e meu filho.
- Seu marido... é com ele que eu me preocupo. – falou Alis, hesitante, enquanto esfregava as mãos num gesto de nervosismo.
- Ele está me traindo. – falou Liz, ao perceber que Alis parecia titubear. – O fato de querer me ausentar da minha casa, em parte, é por causa disso. Antes de meu pai falecer, ele ainda me tratava com amor. Porém, agora que meu pai morreu, está mais evidente que ele só pensa na amante. Eu preciso de um tempo afastada disso tudo para pensar no que fazer e tomar uma atitude. Então não se preocupe com ele. Ele não vai tocar em você e vai manter a distância e te evitar, assim como tem me evitado.
- Eu sinto muito, Liz. Parece que ambas temos um gosto muito ruim para maridos.
Liz sorriu ao perceber que Alis parecia decidida agora.
- Atrás de cada foto, está o nome da pessoa. Então, quando estiver sozinha em seu quarto, tente memorizar, está bem? – disse ela, tirando o pacote de fotos do colo da irmã para colocar em sua bolsa de marca.
Liz tirou o estojo de maquiagem e passou mais uma vez o corretivo na têmpora de Alis, onde havia a marca da cicatriz. - Isso não está muito bom, mas se alguém perguntar, diga que bateu em algum lugar mas já está cicatrizando.- Certo...
Liz olhou uma ultima vez para a irmã. O vestido sexy que antes usava agora vestia a irmã. Gastou quase todo o corretivo que tinha para cobrir umas manchas roxas numa das pernas. Por fim, de longe, não pareceria muito ruim. A semelhança entre ambas era assustadora. Se ela ficasse com a boca fechada, sua família não notaria a diferença. - É melhor você ficar longe das vistas por hoje e quando sair amanhã, não esqueça de usar corretivo nos seus hematomas, principalmente o da têmpora, está bem? – falou Liz, desejando que Alis não parecesse tão deslocada. – Não se preocupe, eu tenho no meu guarda-roupas algumas peças mais discretas que vão fazer você se sentir melhor. O importante agora é subir para seu quarto sem atrair muita atenção. E tente se lembrar de tudo o que eu falei. - S-sim... Se alguém me perguntar, eu passei a tarde inteira no Museu de Arte Moderna e o seu quarto é o terceiro depois da escada no segundo piso, certo? - Correto. – afirmou Liz – Agora escute com atenção. Eu vou descer aqui, na sua casa e você vai para a minha. O motorista se chama Raul, ele é também meu segurança e meu homem de confiança. Ele sabe do meu plano, quer dizer, da nossa troca... Ele vai deixar você na frente de uma escadaria. Suba e estará no Hal de entrada. Você logo vai ver a escada e só subir e achar seu quarto. Tome um banho, durma tranquila e faça tudo o que eu lhe disse, escutou? - Sim, vou fazer tudo o que mandar, Liz. – disse Alis e antes que Liz pudesse afastá-la, abraçou-a com carinho. – Eu estou muito feliz por você ter aparecido na minha vida. - Ora... será bom para nós duas... e logo estaremos juntas – disse Liz, e parecendo absolutamente imponente naquela saia longa desajeitada, saiu da limusine e desapareceu no pequeno casebre que pertencia a Brade e no qual Alis havia vivido dez anos de sua vida. No mesmo instante que Liz desapareceu no seu casebre, o vidro que separava o motorista da cabine do passageiro, desceu suavemente. Alis assustou-se ao ver, pelo retrovisor, o olhar de um homem desconhecido a contemplá-la. - Meu nome é Raul, senhora... estou a sua disposição. Devemos ir para a mansão Trevor, agora? - Você sabe que eu não sou Liz, certo? – perguntou Alis, temerosa. - Perfeitamente, senhora. Pode contar com minha discrição. Então? Para casa? - Sim, obrigada. Quando a limusine voltou a se movimentar, o vidro de separação, tornou a levantar, isolando Alis novamente em seus pensamentos.