Elara*
A noite se foi, e o dia chegou arrastado, pesado como chumbo. Eu ainda me sentia zonza com o gosto amargo daquele vinho, como se seu cheiro tivesse grudado na minha pele. As palavras de Cassian ecoavam, cruéis, como lâminas afiadas dentro da minha mente. Seu olhar, frio e duro, voltava a me ferir cada vez que fechava os olhos.
"Você é uma vadia qualquer."
Me encolhi no canto do quarto enquanto lá fora a tempestade castigava as paredes, trovões ecoando como se quisessem acompanhar minha dor. Ele tinha deixado tudo claro: eu seria julgada. Ele não estaria ao meu lado. Não me defenderia.
Eu estava cansada. Exausta de carregar culpas que não eram minhas. De ser acusada, humilhada, tratada como se fosse suja. Eu não merecia aquilo. Mas, ainda assim, cada palavra dele me rasgava por dentro. E eu não entendia por que doía tanto. Talvez porque, no fundo, eu tinha desejado que ele acreditasse em mim.
Mas não importava. Nunca iria acreditar. Jamais desconfiaria do irmão.
Respirei fundo,