Perseguida pelo Meu Ex-MaridoPT

Grace

— Ela voltou. Assine o divórcio e acabe com isso. — Disse Ethan, frio e indiferente.

Agora eu compreendia como um único acontecimento podia alterar a vida de alguém de forma definitiva.

Três anos antes, um desses episódios vira meu mundo de cabeça para baixo: minha irmã fugira do próprio casamento e me deixara para subir ao altar com seu noivo.

Mas eu o amava e não enxerguei aquilo como algo negativo. Pelo contrário, senti que a sorte finalmente me sorria e me dava a chance de ter ao meu lado o homem com quem sempre sonhara.

Contudo, naquele dia outro momento me aguardava. A vida que eu construíra estava prestes a ruir.

Encarei-o, incrédula: ele não era mais o homem que me amara durante três anos, mas alguém incapaz até de me olhar, pois desejava estar com outra mulher.

Baixei o olhar para o Acordo de Divórcio sobre a mesa e senti meu coração se contorcer de dor.

Era curioso pensar em como uma assinatura unia duas pessoas num casamento que deveríamos valorizar com tudo o que temos, mas que também podia romper esse vínculo como se ele nunca tivesse tido valor.

— Por favor... por favor, não faça isso, Ethan. — Murmurei, sem conseguir conter as lágrimas que escorriam pelo meu rosto.

— Por que esse drama, Grace? Já havíamos combinado que assim que encontrássemos Lily, eu me divorciaria de você. Esse foi o motivo pelo qual aceitei me casar com você! — Ele falou em tom acusador, com os olhos vazios de qualquer emoção.

Minha vida saiu do controle. Lily, minha irmã, havia retornado e meus piores pesadelos tornaram-se realidade.

— Três anos, Ethan. Nós estávamos casados há... havia três anos. E ela retornou apenas um mês antes. — Chorei.

— E isso muda alguma coisa? Você está no lugar dela. Precisa sair e devolver tudo a ela. — Ele zombou, gelado.

— Três anos atrás, ela fugiu e deixou você esperando no altar, Ethan! — Solucei. — Naquela época, eu abandonei tudo: meus sonhos, meus estudos, minha carreira, e entrei no lugar dela para me casar com você.

— Ela fugiu do altar por sua causa! Porque você disse a ela que me amava e a fez sentir culpa por estar comigo. Não se faça de inocente agora! — Ele elevou a voz.

Minha respiração falhou ao ouvir que ele acreditava que tudo fora culpa minha.

— Já te disse isso inúmeras vezes! — Gritei, agarrando meu próprio cabelo, em desespero. — Eu não falei nada para ela! Eu te amava, sim, mas também a amava. Ela é minha irmã, Ethan. Eu jamais arruinaria o casamento dela. Por que você não consegue acreditar em mim?

— Por que mais ela fugiria? Ela me amava. Você destruiu a vida dela ao forçá-la a se casar com outro homem e me deixando para você. Agora ela está sozinha, arrasada, e a culpa é toda sua. Mas não vou deixá-la sofrer por sua causa de novo. Assim que você assinar o divórcio, vou me casar com ela, como deveria ter feito anos atrás. — Ethan rugiu e pegou um copo sobre a mesa antes de atirá-lo com força contra o chão.

Encolhi-me onde estava, sentindo o medo apertar meu estômago. Olhei para os cacos espalhados pelo chão e depois para ele.

Quando Lily retornara um mês antes e nos encontrara, Ethan dissera que eu não precisava me preocupar. Mas eu deveria ter sabido. O olhar de amor no rosto dele não era falso.

Deveria ter percebido que, mais cedo ou mais tarde, ela envenenaria a mente dele e contaria alguma mentira estúpida dizendo que fui eu quem a fizera fugir.

O que valia um casamento de três anos diante de uma mulher como minha irmã Lily? Ela era o retrato do sucesso e da beleza, e os homens babavam por ela como se fosse algo quase irreal de tão sedutora. Meu marido não era diferente.

Mas eu queria gritar que ela nunca o amara e só buscara o seu dinheiro, pois, ao encontrar um homem mais rico, fugira do casamento.

Ela o abandonou sem se importar com o quanto aquilo o destruiu ou com a reputação da nossa família.

Eu devia contar a ele o quanto ele parecera miserável naquele altar, confuso e furioso, esperando por uma mulher que há muito tempo havia desaparecido.

Queria dizer que a dor dele partira meu coração e que, por isso, abandonei tudo e ocupei o lugar de Lily, tentando curar o coração ferido do homem que eu amara a vida inteira.

Mas como poderia partir o coração dele assim? E mesmo que conseguisse, será que acreditaria em mim?

— Eu a amava! Você sabia que eu a amava. Sempre soube e mesmo assim sabotou nossas vidas e destruiu a felicidade de todos. E ainda tem coragem de negar!? — Como uma fera enfurecida, Ethan avançou até mim e apertou meu queixo com força.

Meus dentes cravaram na parte interna da bochecha e eu engasguei, sentindo as lágrimas se acumularem nos olhos.

Meu coração parecia ter sido esfaqueado, sangrava de dor e doía de um jeito que me consumia. Por que ele não se importava?

— Eu... eu não fiz isso, Ethan. Por favor... confia em mim. — Solucei, tentando soltar meu rosto ao segurar seu pulso.

— Confiar em você? Em uma mulher nojenta capaz de arruinar a vida da própria irmã? Como eu poderia confiar em você!? — Ele estava fervendo de raiva.

Os olhos verdes dele estavam injetados de sangue, tomados por uma fúria assassina.

Ele apertou meu queixo ainda mais e eu gritei ao sentir o gosto metálico do sangue na boca.

— Eu não quero machucar você, Grace. Não me force a isso. Assine os papéis e estará livre para ir embora. Não vou buscar vingança pelo que fez. Até darei dinheiro suficiente para você viver o resto da sua vida. — Seus dedos afundaram na minha pele, arrancando outro gemido de dor.

O rosto dele, que eu sempre achara bonito, agora me parecera distorcido na visão embaçada. Estendi a mão para tocar sua bochecha, mas ele a afastou com um tapa violento.

— Não me toque com essas mãos imundas! — Rosnou Ethan, com tom perigoso.

— Mãos imundas? — Perguntei, sentindo o sangue gelar. — Foi você quem me tocou primeiro! Você fez amor comigo por tantas noites, Ethan. Por que você não me achava suja naquele momento?

— Acha mesmo que eu tentei com você porque você conseguiu derreter meu coração com seus truques idiotas? — Ele riu com escárnio, um som ensurdecedor que estilhaçou meu coração.

— Por quê? — Sussurrei, com a voz abafada pelo zumbido nos meus ouvidos.

— Não se faça de tola. Como minha esposa, seu papel era me dar um filho. Mas você nem isso conseguiu. Provavelmente era estéril. Era um castigo divino, Grace. Você merecia. Uma mulher como você não merecia ser mãe. — O olhar gélido dele queimou meu rosto e destruiu tudo dentro de mim.

As palavras dele ecoaram nos meus ouvidos. Tentei respirar, mas a dor era tão intensa que não consegui. Meu peito apertou e a agonia tomou conta de cada parte do meu ser.

— E o que teria feito se eu tivesse dado à luz seu filho, Ethan? — Sussurrei, derrotada.

— A criança pertenceria a Lily. Eu nunca deixaria você criar meu herdeiro. — Ele respondeu cruelmente e soltou meu queixo com um movimento brusco.

Instintivamente, levei a mão ao ventre. Aquele era o dia em que eu contaria a Ethan sobre a vida que crescia dentro de mim. Mas naquele momento simplesmente não consegui. Ele tiraria meu filho de mim e o entregaria a Lily.

Como eu poderia suportar isso?

— Quando eu voltar, não quero ver seu rosto por aqui, Grace. Assine os papéis ou, desta vez, eu vou destruir você! — Ethan avisou com frieza antes de sair furioso.

Fiquei sozinha na sala de estar. Encarei os papéis enquanto minha cabeça girava de tantos pensamentos. O que eu faria agora?

Em nossos três anos de casamento, ele nunca fora frio comigo. Antes de Lily voltar para destruir nossas vidas, Ethan e eu éramos felizes.

— Acho que passar a vida com você não seria tão ruim assim, Minha Grace. — Foi o que Ethan me disse há dois meses, antes de fazermos amor a noite toda.

Ele me tocava com uma paixão tão intensa que meu corpo ardia, e aquela sensação agradável permanecia por muito tempo. Ele me enchia de presentes e me mimava como uma princesa.

Mas duas semanas antes, ele chegara em casa tomado pela raiva e atirara um vaso em mim.

Eu não soubera como reagir. Nunca havia enfrentado sua fúria antes.

Naquele dia, ele me acusou de tudo. Dissera que eu destruíra a vida dele e de Lily e que eu jamais encontraria felicidade naquela existência.

Demorei um tempo para entender o que ele quisera dizer. Lily lançara toda a culpa em mim para retomar o que acreditava ser seu por direito.

Ethan. Meu marido. O homem que, segundo ela, deveria ter sido dela.

Todos os meus esforços para convencê-lo de que eu apenas queria preservar sua reputação quando me casei foram inúteis.

Sim, eu ficara feliz por me casar com ele, não posso negar, mas nunca quis que ele fosse apenas meu. Eu teria sido feliz mesmo que ele tivesse se casado com Lily.

Mas nada do que eu dissesse o convencia. Ele sempre ficava ao lado dela.

Agora eu entendia.

Era porque ele a amava, não a mim. Era porque minha família amava mais Lily. E eles também exigiam que eu assinasse o divórcio.

Todos queriam que eu esquecesse que um dia fora esposa de Ethan Calder. Mas como faria isso?

Eu simplesmente o amava demais. Não queria ver Lily aproveitar-se dele por motivos egoístas. E havia o bebê que eu carregava. Como eu criaria aquela criança sozinha, sem pai?

— Senhora. — Serena, a governanta, entrou apressada, tirando-me do transe.

Levantei os olhos para seu rosto envelhecido. A expressão de pena estampada ali partira meu coração ainda mais.

— A senhora não estava atendendo o celular, então sua família mandou o motorista. — Ela informou.

— O quê? — Perguntei, com a voz rouca de tanto chorar.

— A senhora precisa ir à festa de aniversário da sua irmã. — Ela lembrou.

Respirei fundo, com um tremor no peito, lembrando do convite da minha família e da ameaça de deserdada caso eu não comparecesse.

— Diga para ele esperar cinco minutos. Eu já irei. — Sussurrei, levantando-me.

Não sabia o que me esperava naquela festa de aniversário para a qual eles estavam tão desesperados que eu fosse, mas algo me dizia que aquilo mudaria minha vida para sempre.