Houve um silêncio breve do outro lado da linha. Não um silêncio de choque, mas de cálculo. De avaliação. Dante era um homem que ouvia mais do que falava. Quando finalmente respondeu, havia um leve sorriso em sua voz — quase imperceptível, mas lá. — Não precisa me explicar. Está no sangue. Villano não respondeu. Não precisava. Ambos sabiam. — Ela é como a sua mãe, não é? — Dante perguntou, mais como uma afirmação do que uma dúvida. — Você achou a sua Unirian. Villano não sabia como descrever aquilo que sentia por Ura. Ele só sabia que havia algo nela que o fazia não puxar o gatilho... e isso era perigoso. Mas inegável. — Ela ainda não sabe — disse por fim. — Mas eu vou protegê-la. De tudo. — Então faça uma coisa por mim, filho — a voz de Dante engrossou com um peso diferente. — Traga-a um dia. Sua mãe merece conhecer a mulher que domou o demônio. Villano fechou os olhos. Promessas não eram feitas à toa entre eles. — Prometo. Dante sorriu, agora de forma evidente. Como
A madrugada pesava sobre o apartamento como um manto silencioso. O mundo lá fora estava quieto, mas dentro de Villano, o caos era ensurdecedor. Sem fazer um som, ele abriu a porta do quarto dela. A luz da rua entrava pelas frestas da cortina, pintando listras douradas sobre o rosto de Ura, que dormia profundamente, a respiração tranquila, os lábios entreabertos, murmurando algo que ele mal conseguia ouvir. Villano se aproximou devagar. O olhar sério, mas tomado por um desconforto diferente. Como se sua presença ali fosse um erro, mas um erro que ele não conseguia evitar cometer. Ficou parado por um momento aos pés da cama. Depois, como se atraído por algo mais forte que sua vontade, ajoelhou-se ao lado dela. Queria entender. Observar. Sentir… algo. Ela se virou levemente no sono, o rosto virado para ele. — V… — murmurou ela, a voz fraca, sonolenta. — Se casa comigo… por favor. Não me deixa morrer. Villano ficou congelado. Aquelas palavras o atravessaram como uma faca len
Villano estava encostado na bancada da cozinha, limpando sua arma com calma quase meditativa. Orlov observava pela janela, o cigarro apagado nos dedos. O silêncio era denso, até que V falou, sem tirar os olhos da arma. — Prepare suas coisas. Vamos ficar um tempo na Rússia. Orlov virou-se devagar. — Rússia? Tá falando sério? Villano assentiu. — Vladimir Romanov tá fazendo movimentos demais nos bastidores. Quero ver de perto. Sentir o terreno. — E ela? — Orlov perguntou, indicando com o queixo o quarto onde Ura dormia. Villano demorou alguns segundos, como se pensasse em mil possibilidades. Depois respondeu: — Vai com a gente. O casamento… vai acontecer lá. Orlov ergue as sobrancelhas, surpreso. — Casamento russo? Você quer mesmo que ela passe por isso? Villano não respondeu de imediato. Apenas limpou a lâmina com precisão. — Aqui o pai dela descobriria. Interromperia tudo antes mesmo de começarmos. Na Rússia… é nosso território. Ele não vai tocar nela lá. Na m
A grande mesa de carvalho estava posta com talheres prateados, taças de cristal e pratos fumegantes de uma culinária que misturava o requinte italiano com sabores russos. O salão principal da mansão vibrava com o som da conversa moderada, mas todos — todos— tinham os olhos voltados para ela. Ura, sentada ao lado de Villano, tentava parecer à vontade. Mas o ambiente era diferente de tudo que já vivera. Elegante, silencioso… e cheio de pessoas que provavelmente já mataram alguém antes da sobremesa. Unirian tentava quebrar o gelo com sorrisos e perguntas gentis. Ricci e Petrov cochichavam entre si, ainda intrigados com a novidade. O único que não reagia era V — sério, olhando para o prato como se estivesse calculando algo mais importante que calorias. Então, foi inevitável. — Então... V? — Ura repetiu o nome dele, inclinando a cabeça de lado, com um sorriso maroto. — Isso é um nome... ou uma letra de co
A mansão ainda estava em silêncio, os jardins começavam a receber os últimos toques para a cerimônia. Mas dentro do escritório de Dante Marchesi, a atmosfera era diferente. Mais densa. Mais íntima. Villano entrou sem bater. Dante estava à janela, olhando para o jardim, um copo de café forte na mão. Sem virar o rosto, falou com a voz firme: — Sabia que viria. Não dormiu, né? Villano permaneceu em silêncio por um instante, até fechar a porta atrás de si. Caminhou até o pai, parando a poucos passos. — Pai… — sua voz falhou pela primeira vez em muito tempo. — Eu preciso que você me diga o que é isso que eu tô sentindo. Porque... tá me tirando o foco. Dante se virou. A expressão dele era de quem já sabia. De quem já esteve ali. — É ela. Villano não respondeu. Apenas abaixou os olhos, como se tivesse sido flag
Essa manhã teve um gosto diferente. Um daqueles momentos que marcam o coração com delicadeza — como se, entre as lembranças sombrias e os compromissos de sangue, finalmente houvesse espaço para algo simples: a paz. Villano estava na cozinha já há algum tempo, os cabelos ainda levemente bagunçados, com uma camiseta escura de mangas dobradas e expressão mais leve do que de costume. Ao seu lado, Unirian mexia distraidamente uma panela, rindo de algo que ele acabara de dizer. O som do riso de Villano... aquele som raro, quase esquecido no tempo, preencheu o ambiente como um raio de sol em meio à neblina. Ura, ainda com os cabelos soltos e vestindo um robe claro, parou no último degrau da escada. Ficou ali, imóvel, observando a cena. Seus olhos se fixaram em Villano. Ele estava sorrindo. Rindo, de verdade. Não aquele sorriso contido que às vezes ele dava quando ela o provocava. Era genuíno, leve, quase inocente. — Bom dia, m
O caminho de volta para casa foi tranquilo, com Ura sorrindo o tempo todo, o urso gigante ocupando metade do banco de trás e Villano ainda tentando entender por que ele não se importava de estar usando... aquilo. —Não acredito que você deixou!— Ura riu, mostrando a foto no celular. Na imagem, Villano estava com um turbante colorido com duas anteninhas de diabo brilhando em vermelho, cara séria como sempre. A contradição era cômica. — Você ficou fofo.— completou ela. —Se essa foto for parar em qualquer lugar fora do seu celular, você morre— disse ele, calmo, mas com um brilho quase... cúmplice nos olhos. Chegaram em casa. Ura mal colocou os pés dentro e já saiu correndo com as sacolas, o urso e as fotos. — Sogrinha!—chamou empolgada — Olha só! A sogra estava na sala com Dante, tomando chá. Quando viu Ura se aproximar, se endireitou com cur
— Eu tenho um conserto hoje, não posso me dar ao luxo de simplesmente não ir— falou Unirian para sua mãe. — Sinto muito, hoje tens uma consulta marcada no ginecologista, não podes simplesmente não ir, aquilo me custou uma fortuna, ouvi dizer que o Dr.Gael é o melhor médico ginecologista — disse, subindo as escadas com um cesto de roupas acabada de ser passada. — Mas mãe…— resmungou. —Nada de mas nem meio mas— Kate desceu com as chaves do carro na mão— vamos para não nos atrasarmos. Unirian murmurou algo que a sua mãe não ouviu. — O que que disse? — Que tenho sorte de ter uma mãe como a senhora— mentiu. — Ótimo. As duas entraram no carro. Unirian olhava a cidade linda de New York. Seus pés balançavam freneticamente. — A consulta vai ser rápida, tu namoras, precisas fazer essas consultas. — Namoro? Mãe por isso a senhora marcou essa consulta? Não aconteceu nada entre mim e o Nick, eu juro. — Tudo bem! Mas mesmo que nada tenha acontecido, precisamos ver se es