Andei até a esquina da praça e olhei ao redor. Nada. A sorveteria estava aberta, mas não havia sinal dele lá dentro.
Foi então que ouvi.
Uma voz, abafada, vinda de um beco entre a farmácia e uma loja de roupas.
— Não, não agora — disse ele, num tom diferente. Rápido. Direto. Baixo demais para ser ouvido por curiosos, mas claro o suficiente para mim.
Me aproximei em silêncio, colando as costas à parede do prédio e inclinando ligeiramente a cabeça para ouvir melhor.
Ele falava ao telefone. Mas, a exigência e a forma que ele falava não soava como um padre.
A língua que saía da sua boca não era português. E nem latim de orações. Era Romeno.
Eu reconheci o som. Porque tive algumas aulas no ensino médio, além do mais era claro que era o idioma nativo do Andrei.
As palavras dele vinham rápidas, e eu não compreendia tudo, até porque eu não tinha feito mais do que algumas aulas. Mas o tom me deixava desconfortável. Não era a língua, era o conteúdo. Ou a ausência de reverência, a fr