O som da esperança

Capítulo 4

O quarto ainda parecia carregar o eco das palavras venenosas de Amélia. Melissa permanecia de pé, imóvel, tentando recuperar o fôlego depois do b**e-boca. A luz do sol já havia se rendido à escuridão, e o silêncio do entardecer só fazia crescer a sensação de sufoco dentro daquela casa.

Ela se aproximou da janela e observou o céu, as nuvens sendo engolidas pela noite. Pensou em Dom, em sua promessa de que viria ao seu encontro. Era nele que encontrava forças para se manter de pé.

A porta voltou a se abrir, e dessa vez Sônia entrou sozinha, com o olhar duro e cansado de quem não aceitava ser contrariada.

— Você pensa mesmo que Dom vai conseguir mudar alguma coisa? — perguntou, sem rodeios. — Ele não tem poder nenhum contra o homem que escolhemos para você.

Melissa manteve o silêncio, mas o coração pulsava de medo.

Sônia se aproximou e acrescentou em tom baixo, quase sussurrado:

— Esse casamento não é só um capricho. É um acordo. O futuro da nossa família depende disso.

Melissa ergueu o queixo, finalmente encarando-a.

— A família depende ou você depende, Sônia? Porque desde o começo só vejo você e Amélia pensando no que vão ganhar com isso.

Por um instante, o rosto da madrasta endureceu ainda mais, mas em vez de responder, ela saiu, batendo a porta com força.

Minutos depois, Amélia voltou ao quarto, como uma sombra que se recusa a desaparecer.

— Você fala como se tivesse escolha, Melissa — disse ela, com ironia. — Mas você é só uma boneca quebrada. Sem graça, sem charme, sem nada.

Ela abriu novamente o guarda-roupa e riu ao ver os cabides.

— Sempre a mesma coisa… roupas largas, nada de vestidos marcando o corpo, nada que chame atenção. Quem vai te querer assim? Você não passa de uma menininha entediada escondida atrás de moletom.

Melissa fechou a gaveta com força, impedindo que a irmã remexesse ainda mais em suas coisas.

— Eu não preciso me vender para ser amada. Se Dom me ama assim, já é o suficiente.

Amélia a estreitou os olhos.

— Continua sonhando, irmãzinha. Mas não se engane: homens como Dom não ficam muito tempo ao lado de garotas apagadas. Logo ele vai perceber que merece algo melhor.

Melissa respirou fundo, tentando não deixar que as palavras a ferissem. Já chorara demais por causa delas. Dessa vez, decidiu não dar a Amélia o prazer de vê-la desmoronar.

— Prefiro ser “apagada” e verdadeira, do que brilhar como uma mentira, Amélia .

As palavras atravessaram a sala como um corte, e por alguns segundos a irmã nada respondeu. Então, com um sorriso gélido, saiu, deixando Melissa sozinha mais uma vez.

O relógio no criado-mudo marcava quase oito da noite. Melissa, inquieta com a demora de Dom, desceu as escadas da casa silenciosa. Cada passo ecoava pelo hall, e ela se encolheu perto do corrimão, escutando sem querer a conversa no andar de baixo.

— Você sabe o que dizem sobre ele, Mãe? — Amélia falava baixinho, mas clara o suficiente. — Aos dezoito anos, Dominic matou a própria noiva e o amante dela quando descobriu a traição. Ninguém ousa contrariá-lo.

Sônia assentiu, olhando para a porta do jardim como se observasse algo invisível.

— Ele é um monstro. Se Melissa se casar com ele, será o fim dela. Mas… ela acha que pode controlá-lo. Que ingenuidade.

Melissa sentiu o frio da realidade percorrer sua espinha. Seu coração batia acelerado, misto de medo e confusão. Mas, apesar do terror que as palavras provocavam, havia também uma chama de esperança. Dom havia prometido que viria, e ela confiava nele.

Até que, de repente, o som de uma buzina ecoou pela rua silenciosa. Melissa correu até a janela, o coração disparado. Entre as sombras da noite, os faróis de um carro se acenderam diante da casa.

Ela não teve dúvidas: Dom havia chegado.

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