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Capítulo 1 – O Último Respiro do Meu Mundo
Acordei com o som distante de risadas vindas do salão principal, risadas que não eram minhas. Sentei-me na cama estreita, sentindo o peso do travesseiro encharcado de sonhos que nunca se realizaram. A luz cinzenta da manhã invadia o quarto pelas frestas da janela, iluminando a poeira que dançava no ar como se zombasse de mim. Minha mãe se foi há anos, mas a ausência dela ainda doía como se tivesse sido ontem. Meu pai, sempre distante, tornou-se apenas um vulto de reprovação em minha vida, e minha madrasta, Sônia, com seus sorrisos falsos, ocupava cada espaço que um dia fora meu. Vinícius e Amélia, seus filhos, passavam pelo corredor como se fossem a verdadeira família — e eu, invisível, aprendi a me encolher no próprio lar. Hoje, porém, algo era diferente. O silêncio da minha rotina tinha um corte afiado, uma pressa contida que eu não podia ignorar. Meu pai entrou no quarto com passos firmes, a expressão dura, os olhos sem vida. — Melissa — começou ele, sem rodeios — precisamos conversar sobre a situação da família. Senti um frio percorrer minha espinha. Sabia que nada do que viesse a seguir seria bom. — O que foi desta vez? — minha voz saiu mais fraca do que eu queria. Ele me fitou como se eu fosse uma peça em um tabuleiro. — Você vai se casar... Com Dominic Salvatore. As palavras ecoaram na sala vazia, pesada, esmagadora. Um casamento arranjado. Um estranho, descrito como cruel, implacável e perigoso, se tornaria meu destino. O mundo que eu conhecia — já tão frio — parecia desmoronar completamente. O silêncio entre nós parecia um abismo. Meu pai permanecia de pé diante de mim, os ombros rígidos, a mão crispada sobre a mesa como se quisesse quebrá-la. Eu ainda tentava processar as palavras que ele dissera. — Você… quer me vender? — minha voz tremia, mas cada sílaba saiu como uma lâmina. — É a única forma de salvar a empresa — ele respondeu, frio, sem piscar. — Você não tem escolha. Senti algo dentro de mim, uma força que eu mal conhecia, subir pelo peito. Passei a vida me encolhendo, obedecendo, tentando agradar um homem que nunca me enxergou. Mas naquele momento, algo quebrou. — Não. — falei firme, erguendo o queixo. — Eu não vou me casar. Nem que o senhor e Sônia me matem. Os olhos dele se estreitaram, e sua respiração se tornou pesada. — Você não serve para nada, Melissa. Nunca serviu. Ao menos agora, pode ser útil. Senti o estômago embrulhar. Meus dedos tremeram. Uma raiva quente, misturada a anos de dor, tomou conta de mim. — Não sirvo para nada? — minha voz subiu. — Eu passei a minha vida tentando te agradar, tentando ser alguém para você! Enquanto Sônia e os filhos dela tomavam tudo, eu ficava invisível! Eu me anulava para ter um pai — e o que recebi? Desprezo! Ele deu um passo em minha direção, mas eu continuei. — Você fala como se fosse minha culpa… mas a culpa não é minha. A culpa é sua. A culpa pela morte da mamãe é sua. Foi você que a esmagou, que a deixou sem vida muito antes do corpo dela desistir. E agora quer fazer o mesmo comigo. O silêncio estourou no ar antes que eu percebesse o movimento dele. A mão veio rápida, um estalo seco no meu rosto. A dor queimou a pele, mas doeu mais ver o ódio nos olhos dele do que o impacto. — Você vai se casar! — ele gritou, a voz ecoando pelo quarto. — Vai e ponto final! Fiquei parada, os olhos marejados, o gosto metálico da raiva misturado às lágrimas. Não respondi. Meu corpo tremia inteiro. Ele virou as costas e saiu, batendo a porta. Sozinha, caí de joelhos no chão frio. Chorei até a garganta doer, até não sentir mais nada. As lágrimas escorriam pelo rosto, molhando as mãos trêmulas. Em algum momento, no meio do desespero, o sono me venceu. Adormeci ali mesmo, abraçada à minha própria dor, sabendo que quando despertasse, meu destino já estaria traçado. ---






