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Capítulo 1
— Você vai se casar com Dominic Salvatore. As palavras do meu pai cortaram o ar como uma lâmina. Por um instante, pensei que ele estivesse brincando. Depois, o silêncio confirmou o pesadelo. Dominic Salvatore. O nome que fazia homens engolirem seco e mulheres desviarem o olhar. Diziam que ele era implacável, o tipo de homem que não pedia — tomava. — Você… quer me vender? — minha voz saiu trêmula, mas cada sílaba carregava o gosto metálico da revolta. — É a única forma de salvar a empresa — respondeu ele, frio, como se estivesse discutindo negócios, não a minha vida. A luz cinzenta da manhã atravessava as frestas da janela, iluminando a poeira que dançava no ar. Era como se o próprio mundo zombasse de mim. Passei a vida tentando agradar aquele homem — meu pai, meu carrasco. Desde que minha mãe morreu, ele se tornou um vulto de reprovação, e eu, uma sombra dentro da própria casa. Sônia, a madrasta perfeita, tomou o lugar dela com sorrisos falsos e olhos de veneno. Vinícius e Amélia, os filhos dela, passavam por mim como se eu fosse invisível. E talvez eu fosse mesmo. — Eu não vou me casar — disse firme, erguendo o queixo. — Nem que o senhor me mate. Ele respirou fundo, os olhos cheios de desprezo. — Você nunca serviu para nada, Melissa. Ao menos agora pode ser útil. As palavras dele bateram no meu peito como pedras. Por anos, engoli o ódio em silêncio. Mas algo dentro de mim — algo que eu nem sabia que existia — começou a despertar. — Não sirvo para nada? — retruquei, sentindo a voz tremer. — Passei minha vida tentando ser alguém para você! Enquanto Sônia e os filhos dela tomavam tudo, eu só queria ser vista. Mas sabe o que descobri? Que não passo de um estorvo nessa casa. O estalo veio antes da dor. A mão dele acertou meu rosto com força, e por um segundo o mundo ficou branco. — Você vai se casar! — ele gritou, a voz ecoando pelo quarto. — Vai e ponto final! Ele saiu batendo a porta, deixando o ar pesado e o coração em pedaços. Fiquei ali, parada, o rosto ardendo, o corpo trêmulo. As lágrimas vieram silenciosas, quentes, amargas. Chorei até não restar força. Quando finalmente me sentei, com o gosto salgado da dor nos lábios, olhei para a janela aberta. O vento trazia o cheiro da chuva e algo mais — liberdade. E naquele instante, entendi algo que nunca mais esqueci: meus dias de submissa tinham acabado. Eu não seria mais manipulada, nem pelo meu pai, nem por ninguém. Se quisessem me dobrar, teriam que me quebrar primeiro. Eu não sabia como, nem quando, mas algo em mim tinha despertado. Pela primeira vez, a dor não me paralisava — me incendiava. Se o destino quisesse me ver de joelhos, teria que me arrancar o coração. Porque a Melissa de ontem morreu naquele quarto. E se Dominic Salvatore me esperava no altar, ele teria que me encontrar antes. ---






