Mundo de ficçãoIniciar sessãoCapítulo 3 – Promessas de Dom
Melissa despertou lentamente, os olhos ainda pesados de tanto chorar. A claridade alaranjada do pôr do sol atravessava a janela, atingindo seu quarto com uma melancolia suave. Respirou fundo, tentando afastar a dor que a consumia desde a manhã. Estava mais calma agora, como se o pranto tivesse lavado um pouco do peso em seu peito. Pegou o celular da mesinha ao lado da cama e, com mãos trêmulas, procurou o nome que sempre lhe trazia conforto: Dom. Conhecia-o desde os treze anos, cresceu ao lado dele. Aos quinze, dera-lhe seu primeiro beijo, e aos dezessete, entregara-lhe o que tinha de mais íntimo. Dom não era apenas seu namorado, era seu porto seguro, o homem com quem sonhava se casar. O telefone chamou apenas uma vez antes que ele atendesse. — Melissa? — a voz de Dom, firme e preocupada, soou como um alívio. Entre soluços contidos, ela resumiu o pesadelo que vivia dentro de casa. Do outro lado, ele não pensou duas vezes: — Espera por mim. Já estou indo. Com o coração aquecido pela promessa, Melissa desligou o celular, mas a sensação de alívio durou pouco. A porta do quarto se abriu com força. Sônia, sua madrasta, entrou com o semblante carregado, acompanhada de Amélia, a meia-irmã que sempre encontrava prazer em vê-la sofrer. — Não adianta nada você tentar fugir, Melissa — disse Sônia, cruzando os braços com frieza. — Esse casamento vai acontecer, querendo ou não. Amélia ergueu o queixo com aquele sorriso cruel que tanto a irritava. — Aceita logo, vai ser melhor pra você. Esse homem pode até ser um velho fracassado, mas é poderoso. Ninguém sabe quem ele é de verdade, já que nunca aparece em fotos nem entrevistas. Melissa sentiu o coração se contrair. Observou a irmã com incredulidade e dor. Como podia ser tão cruel? Como poderia tratar aquilo como se fosse apenas um jogo? — Se você o acha tão interessante, então que se case com ele você mesma — respondeu, a voz trêmula, mas firme. — Eu não posso me casar duas vezes. Vou me casar com Dom, e isso vai estragar o plano de vocês. O silêncio pesado que se seguiu foi quebrado pelo estalo da voz de Sônia: — Cala a boca! — ordenou, saindo do quarto em passos duros. Amélia permaneceu, seus olhos claros percorrendo o quarto de Melissa com desdém. Caminhou até a cômoda, abriu uma gaveta sem permissão e puxou algumas roupas, atirando-as de volta com desprezo. — Olha só pra isso. Calças largas, moletons sem graça, nada de vestidos colados, nada de salto. Nem maquiagem você usa, Melissa. Como espera que alguém olhe pra você desse jeito? — ela riu com ironia. — Despenteada, apagada… parece até uma sombra andando pela casa. Melissa apertou os punhos, tentando conter a raiva. — Eu não preciso de roupas caras ou maquiagem para ser amada, Amélia. O que eu tenho com Dom não depende de aparência. — Ingênua! — retrucou a irmã, dando um passo mais perto. — Você acha que homens querem santinhas de moletom? Acorda, Melissa. O mundo real não é esse conto de fadas que você inventa. Dom vai perceber isso logo, logo… e quando perceber, vai te deixar. Melissa a encarou de frente, mesmo com o coração disparado. — Melhor ser quem eu sou do que viver de máscaras como você. Se precisa se esconder atrás de roupas e maquiagem para ser notada, então é você quem deve ter medo de ser deixada. O olhar de Amélia escureceu por um instante, antes dela disfarçar com um sorriso venenoso. — Vamos ver se o Dom vai mesmo querer casar com uma sem graça como você. — E, antes de bater a porta com força, lançou-lhe aquele olhar que misturava ódio e inveja. Sozinha novamente, Melissa respirou fundo, tentando segurar as lágrimas. O peito doía, mas havia algo que a mantinha de pé: Dom estava a caminho, e com ele, talvez, uma chance de escapar daquele pesadelo. ---






