Coração Congelado

Capítulo 2 – Dominic Salvatore

A mansão Salvatore erguia-se como um palácio de mármore, imponente, quase intocável, refletindo o peso de gerações de poder e fortuna. Dentro dela, o silêncio só era quebrado pelo tilintar distante de taças de cristal, pela música suave que Ofélia gostava de deixar tocar nas manhãs.

Dominic estava no escritório quando Lorenzo entrou. O cheiro amadeirado do charuto recém-apagado ainda pairava no ar, misturando-se ao perfume frio do couro das poltronas. Ele revisava relatórios, os olhos fixos nos números como se fossem sua única verdade.

— Precisamos conversar — disse Lorenzo, com a voz grave, carregada de algo que Dominic raramente ouvia: hesitação.

Dominic ergueu o olhar. Alto, de ombros largos, os traços marcados pela vida dura dos negócios, parecia mais uma estátua de gelo do que um homem de carne e osso.

— Diga logo, pai.

Lorenzo respirou fundo.

— Seu avô… antes de morrer, me lembrou de uma promessa feita há muitos anos. Um acordo selado com o avô de Melissa Benetti.

O nome soou estranho, distante, mas Lorenzo continuou:

— O pacto era simples: quando vocês crescessem, haveria um casamento entre as famílias.

Dominic riu, um som sem humor, rouco e carregado de incredulidade.

— Está dizendo que, em pleno século XXI, eu vou ter que cumprir uma promessa de velhos?

— Não é só uma promessa. É uma honra — Lorenzo rebateu, firme. — E mais: o pai dela nos procurou. A família está falida, em ruínas. Ele exige que o acordo seja cumprido.

Dominic se levantou, a cadeira girando atrás dele. Os olhos ardiam de raiva.

— Uma criança? Ela tem dezessete anos, pai! Dezessete! Quer que eu me case com alguém que mal sabe o que é a vida?

Lorenzo manteve-se sério, mas havia peso em sua expressão.

— Não é uma questão de querer. É um dever. O pacto será cumprido.

Dominic passou a mão pelos cabelos, tentando conter a fúria que queimava em seu peito.

— Eu não sou moeda de troca. Eu não vou amarrar minha vida a uma menina para satisfazer um capricho antigo!

Nesse momento, a porta do escritório se abriu suavemente. Ofélia entrou, com a delicadeza que lhe era natural. Os olhos azuis brilhavam com uma mistura de tristeza e esperança.

— Dominic… — sua voz era suave, quase um sussurro. — Talvez isso não seja o fardo que você pensa.

Ele virou-se para a mãe, a raiva ainda estampada no rosto.

— Está defendendo isso? Quer que eu destrua a vida de uma garota inocente?

Ofélia se aproximou, pousando uma mão leve sobre o braço do filho.

— Eu quero que você viva, Dominic. Que volte a sorrir. Faz anos que você se esconde atrás dessa armadura de frieza, se enterrando em negócios e sangue. Talvez… talvez ela seja a chave que o mundo está tentando colocar em seu caminho.

Por um instante, as palavras dela abriram uma ferida antiga. Dominic se lembrou de quando tinha apenas dezoito anos, da primeira vez que acreditou no amor. Lembrou-se da garota por quem se apaixonara, do futuro que imaginara ao lado dela. E lembrou-se também do dia em que descobriu a traição, quando ela partiu com outro homem sem olhar para trás.

Aquela dor o transformara. Aquele abandono o fizera matar qualquer sonho de inocência. Desde então, ele se tornara gelo. Trabalho, poder, disciplina — era só isso que lhe restava.

Ele puxou a mão, afastando-se do toque da mãe.

— Eu não preciso de salvação, mãe. Muito menos de uma esposa escolhida pelos fantasmas do passado.

O silêncio pesou na sala. Jáde, a irmã de Dominic, de apenas 17 anos, surgiu à porta, os olhos arregalados de curiosidade e preocupação.

— Isso é verdade, papai? Dominic vai se casar?

Lorenzo apenas assentiu, a expressão impenetrável.

Jáde olhou para o irmão, depois para a mãe, e recuou. O ar estava denso demais, carregado demais.

Dominic, com o punho cerrado, caminhou até a janela. Olhou para os jardins impecáveis, mas não via beleza alguma.

Dentro dele, só havia raiva.

— Que seja. — sua voz saiu baixa, mas firme como aço. — Se vou cumprir essa promessa ridícula, que ela saiba: não será um conto de fadas.

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