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CAPÍTULO 5 – O PREÇO DA HERANÇA

02h19 – MANSÃO SEO – TERRAÇO PRIVADO

O vento soprava frio no alto da mansão, e ainda assim Aurora estava ali, descalça, o vestido preto ondulando ao redor de seus pés. Ela encarava a cidade como quem buscava sentido no caos.

Jae-Min se aproximou sem pressa.

— Pensei que estivesse dormindo.

— Estou acordada por dentro demais pra isso.

Ele parou ao lado dela, mãos nos bolsos.

— Você me expôs ao mundo... e me protegeu no mesmo gesto.

— Eu te expus à verdade. Proteger você foi consequência.

— E ainda assim... eu esperava que me deixasse cair.

Ela o olhou, séria.

— Eu não sou Skylar.

Silêncio.

— Você me ama, Aurora? — ele perguntou, enfim.

Ela demorou para responder.

— Eu amo o que você é quando deixa de lado todas as máscaras. Mas também odeio o que fez pra sobreviver até aqui. Odeio que tenha sido necessário. Odeio que tenha funcionado. E odeio mais ainda... que você seja exatamente o homem que eu preciso.

Jae-Min se aproximou mais, até que seus rostos estivessem próximos.

— Então... me ame com ódio. E me odeie com paixão. Mas fique.

Ela não recuou.

— Ficar é fácil. Difícil é aguentar o que virá.

— E o que virá?

— Uma guerra maior. Uma verdade ainda mais suja.

Ela tirou do bolso interno do vestido uma foto.

Na imagem: Skylar em Dubai. Ao lado de um homem grisalho, de olhos intensos, pele marcada por cicatrizes.

Nome: Zakarov Yeltsin.

— Ele é o financiador por trás da guerra. O mentor de Skylar. E... antigo aliado do pai de Jae-Min.

— Isso não é possível — Jae-Min sussurrou.

— É. Ele está vivo. E quer o que você tem. E agora... sabe quem está ao seu lado.

Jae-Min segurou a foto com força. Os olhos se estreitaram.

Naquele momento, algo em seu interior mudou.

— Aurora... o jogo mudou.

— Não é mais um jogo.

— É uma caçada.

E ali, entre o passado e o presente, entre o amor e a ruína, eles selaram um pacto sem palavras.

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TRÊS DIAS DEPOIS – PAÍS SEM NOME – QUARTEL SUBTERRÂNEO

Skylar caminhava pelo corredor do abrigo como uma sombra faminta.

Zakarov a esperava de pé, ao lado de uma parede de mapas digitais e armas ilegais.

— Você falhou — ele disse.

— Ainda não.

— A mulher é mais forte do que pensamos.

— Então vamos quebrá-la por dentro.

Zakarov ergueu o olhar.

— E como?

Skylar sorriu.

— Tirando dela... o único laço que a mantém de pé.

No monitor, a imagem de Aurora ao lado de Jae-Min, sorrindo.

Skylar sussurrou:

— Vamos ver quanto tempo o amor sobrevive... quando você obriga alguém a escolher entre salvar quem ama ou salvar a si mesmo.

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CENA FINAL DO CAPÍTULO – SUÍTE DE GUERRA – MANSÃO SEO – 03h00

Aurora vestia um robe de cetim, sentada em frente ao espelho. Jae-Min estava atrás dela, massageando seus ombros em silêncio.

— Estamos sendo vigiados — ela disse, sem medo.

— Por quem?

— Por todos. Pela história. Pela verdade. Por fantasmas que se recusam a morrer.

Jae-Min se abaixou ao lado dela.

— Você tem medo?

— Sim.

— E ainda assim, fica?

— Porque às vezes... a maior prova de amor não é fugir. É permanecer... quando tudo grita pra correr.

Ele a beijou na nuca.

— Então vamos queimar juntos.

Ela sorriu.

— Não. Vamos queimar todos eles primeiro.

05h08 – MANSÃO SEO – CORREDOR CENTRAL

O som veio primeiro como um zumbido distante. Depois, como um estrondo ensurdecedor.

BOOM.

A explosão sacudiu o térreo da mansão, estilhaçando janelas, derrubando quadros e ativando todos os sistemas de emergência. Alarmes soaram em tons vermelhos enquanto as luzes de emergência tomavam o lugar da iluminação principal.

Aurora acordou no susto, jogada ao chão com o impacto. Vestida apenas com uma camisola de seda, tentou se levantar, mas o zumbido no ouvido distorcia tudo. A fumaça tomava conta da ala leste.

— JAE-MIN! — gritou.

Nada.

Correu, descalça, com o coração batendo no pescoço. Viu pedaços de madeira, cortinas em chamas, móveis em ruínas. O cheiro era de pólvora e morte.

E então, ele apareceu.

Jae-Min, com sangue escorrendo na testa, mas de pé. Desarmado. Furioso.

— Você está bem? — ele a puxou para si.

— Estou. O que aconteceu?

— Ataque coordenado. Explosivos. Disfarçados em caixas do sistema de segurança. Alguém se infiltrou com códigos antigos.

Aurora gelou.

— Zakarov.

— Sim.

E então, uma nova explosão — dessa vez nos fundos da mansão. Os guardas correram, Taewon acionou o sistema de defesa interno.

— Temos que sair daqui — Jae-Min disse, apertando a mão dela. — Agora.

Mas antes que pudessem se mover, o monitor da parede acendeu, mesmo sem energia externa.

Era uma transmissão direta.

Zakarov, ao vivo. Em um lugar desconhecido.

— Bom dia, Seo. Que bela madrugada para lembrar os fantasmas, não?

Jae-Min se aproximou da tela, os olhos estreitados.

— Você está cavando sua própria cova, Zakarov.

— Já morri uma vez. E agora... vim buscar os herdeiros do inferno.

E então ele olhou para Aurora.

— Ah, a Callahan. A chama vermelha. Sabe o que é curioso? Você e eu temos mais em comum do que imagina.

Aurora o encarou com nojo.

— Você matou inocentes.

— E você... abandonou os seus.

A imagem sumiu.

Aurora ficou paralisada.

— O que ele quis dizer com isso? — Jae-Min perguntou.

Silêncio.

— Aurora?

— Há algo que você não sabe. Algo que... eu escondi por anos.

— Me diz agora.

— Não aqui. Não com fogo ao nosso redor.

Eles fugiram pela ala subterrânea, com Taewon guiando os passos entre as rotas de evacuação. Mas a tensão... já queimava por dentro.

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06h22 – REFÚGIO NAS MONTANHAS – CABANA DOS FUNDADORES

Era uma propriedade isolada, de madeira nobre, criada como ponto de recuo nos tempos da fundação do império Seo. Lá, Aurora finalmente falou.

— Aos 15 anos, eu estava em um internato no sul da França. Minha família me mandou pra lá pra me afastar de um... incidente.

— Que tipo de incidente?

— Eu me envolvi com o filho de um aliado russo. Jovem. Impulsivo. Doente mentalmente. Ele era obcecado por mim.

Jae-Min franziu o cenho.

— Você foi abusada?

— Não. Mas quase. E quando tentei me afastar, ele surtou. Criou um cativeiro improvisado no porão da escola. Me manteve presa por 48 horas.

— Como você escapou?

— Eu o envenenei. Misturei ácido no chá. Ele morreu sufocando... com os olhos em mim.

Jae-Min não respondeu. Apenas se aproximou. Tocou o rosto dela.

— Por que nunca me contou?

— Porque aquela garota de 15 anos... ainda existe aqui dentro. E porque ele... era filho de Zakarov.

Silêncio.

— Ele está aqui por vingança — Aurora continuou. — E ele quer me fazer pagar.

— Ele vai morrer antes de te tocar.

Aurora o olhou nos olhos.

— E se ele conseguir me quebrar primeiro?

— Então eu te reconstruo. Com as próprias mãos.

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08h14 – MANSÃO SEO – RUÍNAS

Enquanto o casal se refugiava, agentes especializados reviravam os escombros da mansão.

E encontraram algo.

Um fragmento de papel. Meticulosamente escondido entre os painéis eletrônicos.

Nele, uma frase:

> “ELA O MATOU. E AGORA VAI MATAR VOCÊ.”

Era a letra de Skylar.

O fantasma da traidora não havia desaparecido.

Estava apenas... preparando o próximo corte.

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