MANSÃO SEO – SALA DE REUNIÕES PARTICULARES – 15h18
As janelas estavam fechadas, as luzes suaves e a temperatura regulada para conforto absoluto — um disfarce para a reunião mais venenosa do mês. Skylar estava sentada à frente de um pequeno grupo de acionistas, todos com ligações discretas à facção ocidental do império Seo. Havia champanhe, dossiês e um vídeo no centro da mesa. Um vídeo de Aurora saindo do prédio em que haviam se encontrado naquela manhã. — Não é apenas uma mulher impulsiva — disse Skylar, com a voz doce como mel envenenado. — É um risco. Ela está se reunindo com contatos desconhecidos. Fora da agenda. Sem autorização. E sem proteção. Um dos investidores, um velho sócio da era do pai de Jae-Min, pigarreou. — Se isso for exposto... o nome Seo será manchado. — Se isso for exposto — respondeu Skylar —, o nome Callahan será destruído. E o nosso CEO... será libertado. Ela levantou-se com elegância, puxando o pen drive do dispositivo. — Só preciso da sua assinatura, senhor Han. Depois disso... cuidarei do resto. --- ALA NORTE – SALA DE LEITURA – 16h02 Aurora estava sentada entre colunas de livros, com um copo de vinho tinto na mão e o rosto sério. Lia um relatório financeiro que não entendia completamente, mas fazia isso por orgulho. Jae-Min entrou sem aviso. — Parece confortável. — Estou tentando me educar — ela respondeu, sem olhar. — Ou isso também é um teste? Ele se aproximou, os olhos mais suaves desta vez. — Não vim brigar. Ela levantou os olhos. — Ótimo. Porque se vier, vou atirar esse vinho em você. E depois na lareira. Ele riu. Pela primeira vez em dias. — Skylar está armando algo — ele disse, ficando sério de novo. — Ela está tentando corromper o conselho. E usou imagens suas saindo do prédio hoje. Aurora inspirou fundo. — Ela gravou. — Usou sistemas antigos. Está se movendo rápido. Quer me separar de você... para ganhar espaço. — E o que você vai fazer? — O que você quer que eu faça? Aurora levantou-se devagar. — Me dê acesso. Aos sistemas. Aos dados. Aos rostos dos que estão conspirando. — Vai enfrentá-los? — Vou brincar de rainha com eles. Ele sorriu de lado. — E se eu disser que é perigoso? — Então finalmente vamos nos divertir. --- NOITE – SALÃO DE CRISTAL – EVENTO DE NEGÓCIOS – 20h47 Era um evento discreto, exclusivo para membros do conselho estratégico. Homens de terno, mulheres de olhos afiados, e champanhe em taças que não escondiam veneno. Skylar entrou primeiro, confiante, cumprimentando os presentes. Já havia espalhado sutilmente os rumores de que Aurora era uma esposa descontrolada e imprudente, um erro estratégico. Mas então Aurora apareceu. Vestido branco colado ao corpo, salto agulha, cabelo preso com precisão. E nos olhos... uma tempestade silenciosa. Ela cruzou o salão como quem marchava em um campo de batalha. Cada passo era uma provocação, cada gesto uma ameaça. — Olha só... a esposa dedicada — murmurou Skylar ao se aproximar. — Pronta para fazer uma cena? — Já fiz. — Aurora entregou discretamente um pen drive ao investidor mais velho da mesa. — É o vídeo completo da conversa no prédio hoje. Inclui a voz de Skylar, ameaçando subverter o conselho. Skylar empalideceu. — Você me gravou? — Eu aprendi com os melhores — respondeu Aurora, sorrindo. — Inclusive com você. Jae-Min apareceu logo depois, pegando Aurora pela cintura. — Algum problema? — Não mais — ela respondeu. — Acho que o império dormirá bem hoje. — Skylar não respondeu. Apenas recuou. Mas seus olhos queimavam com a promessa de um retorno. --- SUÍTE PRINCIPAL – 02h12 Aurora estava tirando os brincos no banheiro quando Jae-Min entrou no quarto com duas taças de vinho. — Eu achei que você fosse explodir o salão — disse ele, se apoiando no batente. — Eu estava pronta. Mas decidi usar a cabeça antes da dinamite. — Você foi brilhante. Ela o olhou pelo espelho. — Foi um erro te fazer pensar que eu era apenas uma peça no teu jogo. Agora sou jogadora. — E eu sou? — O homem que escolheu o lado certo. Ele colocou as taças sobre a bancada e se aproximou, envolveu-a pela cintura. — Quero você comigo, Aurora. De verdade. — Isso não é o vinho falando? — É o homem que viu uma mulher incendiar um império... e sair intacta. Ela se virou. — Então me prove. — Como? Ela sorriu. — Comece me escutando. E depois... me deseje como se nunca tivesse me tocado antes. E naquela noite, ele a escutou. E a desejou como nunca. Mas no andar de baixo, Skylar observava a mansão pela câmera oculta de seu relógio digital. E sussurrou: — Isso ainda está longe do fim. TRÊS DIAS DEPOIS – EMBAIXADA DOS ESTADOS UNIDOS – 09h03 O escândalo explodiu como uma bomba atômica nas redes políticas de Seul. Um dossiê foi vazado contendo transações ilegais entre empresas de fachada coreanas e contas americanas ligadas aos Callahan. Documentos, extratos, nomes. E no meio de tudo isso... o nome de Aurora Seo como beneficiária indireta. O mundo corporativo congelou. As ações do Grupo SEO caíram 6% nas primeiras horas. Jornais de elite insinuavam que o casamento era uma fachada para lavagem de dinheiro. E o governo dos EUA — pressionado por opositores — convocou a embaixada para pedir esclarecimentos. Aurora estava sentada em uma sala blindada da mansão, assistindo à reportagem em silêncio, com os punhos cerrados. — Skylar — ela disse entre dentes. — Ela orquestrou isso. Está tentando me deportar. Separar o império por vias políticas. Jae-Min caminhava de um lado ao outro, o maxilar travado. — Estou tentando conter os diretores. Metade está com medo. A outra... pronta para me apunhalar. Aurora se levantou devagar. — Me deixe falar. — Com quem? — Com os embaixadores. Com a imprensa. Com os sócios. Me deixe defender o que é nosso. — Você não é uma peça de defesa. É uma arma. Isso pode queimar tudo. — Então me deixe incendiar com precisão. Ele hesitou. E então assentiu. — Se você fizer isso... não há mais volta. Ela olhou para ele com firmeza. — Nunca houve. --- CONFERÊNCIA DE IMPRENSA – 17h40 O salão estava lotado. Repórteres, acionistas, representantes do governo e espiões disfarçados — todos reunidos para ouvir o que a “esposa do CEO” tinha a dizer. Aurora subiu ao púlpito com um tailleur branco impecável, microfone ajustado, olhar firme. — Há 72 horas, fui envolvida em um escândalo forjado. Me acusaram de financiar um império mafioso com dinheiro sujo dos Estados Unidos. Isso é mentira. Ela colocou o pen drive sobre a bancada. — Neste dispositivo, está a origem da forja: vídeos, áudios e transações originadas da conta pessoal de Skylar Seo. Usando meu nome como escudo para mascarar seus próprios desvios. O salão ficou em silêncio. — Estou aqui não como esposa. Mas como sócia. Como voz. Como ameaça direta a quem ousar destruir aquilo que estamos construindo. Ela encarou as câmeras. — Não nasci para ser submissa. Nem para ser símbolo de reconciliação. Eu sou uma força. E vocês farão muito bem em lembrar disso. Ela desceu do palco sob um misto de silêncio e aplausos contidos. Mas Jae-Min a esperava. — Você acabou de declarar guerra. — E venci a primeira batalha. Ele a puxou para um beijo. Ali mesmo. Em público. Em rede nacional. E ninguém ousou interromper. --- MANSÃO SEO – SALA PRIVATIVA – 01h09 Skylar, pela primeira vez, estava encurralada. As provas a ligavam diretamente ao escândalo. A embaixada estava exigindo explicações. A mídia a tratava como uma ameaça latente. Ela sabia que havia perdido a primeira mão... Mas não o jogo. Ela digitou um código em seu celular. Na tela, surgiu a imagem de um rosto masculino — um agente de elite de uma célula russa envolvida com espionagem industrial. — Plano B? — ele perguntou. — Ative tudo. Aurora é mais perigosa do que pensávamos. Mas... ela também tem fraquezas. — E o CEO? Skylar sorriu. — Ele ainda ama algo nela. Isso será a chave. Vamos derrubá-la... pelo coração. --- SUÍTE PRINCIPAL – 03h17 Aurora não conseguia dormir. A adrenalina ainda corria sob a pele. Jae-Min se aproximou da cama e deitou-se ao lado dela, em silêncio. Ficaram assim por minutos. Em silêncio. Conectados. — Você me salvou — ele disse, por fim. — E você me desafiou. Foi justo. — Skylar vai reagir. E dessa vez... com sangue. — Então vamos deixar ela sangrar primeiro. Ele tocou o rosto dela. — Você mudou o jogo. — Não, Jae-Min. Eu sou o novo jogo. Ele a beijou, dessa vez sem pressa, sem raiva, sem vingança. Apenas com necessidade. E naquela noite, fizeram amor como quem sela uma aliança em silêncio, com o mundo prestes a desabar do lado de fora. Uma sala escura. Telas iluminadas. Códigos rodando em velocidade absurda. Skylar observa tudo, de um trono digital improvisado. Ao seu lado, o agente russo. — Eles acham que venceram — ela disse. — Até que ponto pretende ir? Ela sorriu. — Até ela desejar... nunca ter nascido Seo.