Ponto de Vista: Máximo Bianchi
O som da porta batendo quando ela saiu da boate ecoou mais alto do que qualquer música, qualquer gargalhada ou gemido que viesse daquele lugar. Era como se o universo inteiro tivesse silenciado só para me esfregar na cara que, pela primeira vez na vida, eu estava perdendo o controle.
E não era pra polícia, nem pra inimigos, nem pros negócios.
Era pra uma mulher.
Pra minha mulher.
Dirigi de volta pra casa com os nós dos dedos esbranquiçados no volante. O caminho parecia mais longo, mais sufocante, como se a estrada estivesse me punindo por cada erro, cada palavra não dita, cada atitude impensada.
Quando cheguei, subi as escadas com passos firmes, a respiração pesada, o peito apertado numa mistura insuportável de culpa, raiva e orgulho ferido.
Abri a porta do quarto e encontrei ela ali.
Serena.
Sentada na penteadeira, desfazendo o coque, tirando cada grampo com a maior calma do mundo, como se não tivesse me destruído minutos atrás na frente de meio mundo.