SAVANA
A luz filtrada pelas cortinas fazia a sala parecer um lugar suspenso no tempo. Eu não sabia dizer que horas eram, só sentia o corpo inteiro pesado, como se as horas da madrugada tivessem virado areia dentro dos meus músculos. Amber respirava mansa ao meu lado, a boca entreaberta, os cabelos grudados na testa por mechas finas. Apollo, deitado ao lado do sofá, ergueu a cabeça quando me mexi e bateu o rabo uma vez só — como quem diz “tá tudo sob controle”.
Pisquei devagar. A memória veio por partes — a febre que não cedia, o vômito, as luzes frias do hospital, o bip insistente do monitor, a agulha, meus dedos fechados na mãozinha dela, a médica dizendo “vai estabilizar”, o soro pingando devagar demais. E, então, a volta. A casa. O colchão. O silêncio depois do susto, que a gente sente primeiro nas pernas, depois no peito.
Virei o rosto para conferir a testa de Amber. Fresca. Encostei os lábios ali e fechei os olhos por um segundo — um segundo inteiro de gratidão, desses que parece