CALEB
A cozinha da casa do meu pai sempre teve o mesmo som de fundo: o rádio chiando notícias que ninguém consegue entender, o tinido das xícaras e o estalar lento da lenha no fogão. Ele já estava sentado na ponta da mesa quando desci, o chapéu pendurado na cadeira ao lado e um maço de papel amarelado sob a mão — contas, listas, números. Sempre números.
— Dormiu? — ele perguntou, sem levantar muito a voz.
— Um pouco. — respondi, puxando uma cadeira. — Mas foi o suficiente.
Ele serviu o café para os dois. Forte o bastante para acordar até mourão de cerca. Ficamos em silêncio por alguns minutos, só ouvindo o rádio e o som da colher mexendo no copo. Meu pai nunca foi de rodeios, então eu sabia que o silêncio era o intervalo antes de alguma pergunta.
— Fiquei sabendo que a cooperativa foi embora satisfeita ontem — Ele disse, enfim. — Nestor passou aqui mais cedo. Disse que elogiaram até a linha de frio.
— Elogiaram. — encostei os cotovelos na mesa. — Não tinha como não elogiar. Tá tudo re