CALEB
A tarde tinha o peso das coisas faladas pela metade.
O curral estava em silêncio de serviço: mugido baixo, água batendo no cocho, um galo insistindo num canto. Eu tentei enfiar a cabeça no que era concreto: revisar a ração, ajustar o banho de imersão das patas, conferir os piquetes do trecho leste. Tudo o que pedisse mão, não pensamento.
Não adiantou.
Cada vez que eu levantava os olhos, enxergava a cena sem esforço: cerca, sol oblíquo, a curva do pescoço de Relâmpago… e a boca de Savana encontrando a minha. Foi inevitável como tempestade em tarde de calor.
— Caleb. — A voz do meu pai veio seca, do tipo que a gente ouve antes de decidir se vai discutir. — Preciso falar com você agora.
Ele estava na sombra do depósito de sal mineral, chapéu baixo, postura de quem não gostou do que soube. Meu pai não era homem de rodeio com palavras. Era a cerca esticada na medida, o nó bem dado. Se chamava, tinha motivo.
— Diga — respondi, caminhando até ele.
Ele não disse ali. Virou as costas e s