SAVANA
A madrugada chegou com um silêncio espesso, desses que parece que se espalha por cima das coisas.
 Eu estava na cozinha, sentada na ponta da mesa com uma caneca de chá nas mãos, quando ouvi o primeiro chamado baixinho:
— Mamãe…
Era uma voz rouca, sonolenta e trêmula.
 Amber.
Larguei a caneca no pires e subi as escadas quase correndo. A porta do quarto dela estava entreaberta — deixo sempre assim, pra ouvir qualquer coisa. A luz fraca da luminária de coelhinho desenhava sombras suaves na parede e, no meio da cama, estava minha filha encolhida, com o rosto avermelhado e o cabelo grudado na testa.
— Mamãe, tô com calor… — ela murmurou, com os olhos pesados.
Encostei a mão na testa dela e senti o calor pulsar como uma fogueira acesa. Febre.
— Shhh… eu tô aqui. — sentei na beira da cama e puxei ela para os meus braços. — Vamos ver direitinho, tá?
Peguei o termômetro da gaveta da cômoda — sempre deixo um por perto — e esperei o bip que parecia nunca chegar quando a gente está nervosa