CALEB
O rádio chiava Mozart quando entrei no galpão do desmame. Não tinha entendido direito essa decisão dela de enfiar música de concerto no meio de curral. Mas tinha que admitir, desde que começou, o gado parecia mais calmo. Ou talvez fosse nós que andávamos mais quietos, tentando entender o que ela queria mostrar.
Desci, ajeitei o chapéu e encontrei Nestor separando ferramentas.
— Ela vai querer vistoria do gado amanhã cedo — avisei.
— Já me adiantei — ele respondeu. — E mandei o estagiário revisar as trancas do trecho norte.
— Boa. — Bati de leve no ombro dele. — A gente não pode dar brecha agora.
Ninguém falava em voz alta, mas todo mundo sentia: a volta dela tinha mudado o ar. Até o vento parecia circular diferente. Savana falava pouco, mas cada palavra vinha com um destino certeiro.
Depois do almoço, passei no curral pra conferir o lote novo. Os bezerros estavam mansos demais pro primeiro dia. Fiquei um tempo ali, só observando. Lembrei do pai dela me ensinando que animal sente