SAVANA
Amber sairia para o primeiro dia oficial de aula. Prendi seu cabelo em duas tranças, ajeitei a gola da camisa branca e estiquei a barra da saia azul. Algumas coisas nunca mudavam, aquele uniforme era um. Eu tinha usado o mesmo modelo quando era criança. Ela se estudou no espelho com uma seriedade que me lembrou meu pai antes de um leilão: olhos firmes, queixo erguido, coragem emprestada do silêncio.
— Posso levar o Apollo? — ela perguntou, sabendo a resposta.
— Hoje não, exploradora. Mas ele te busca à tarde comigo.
— Obaaa!
— Vamos furacãozinho para você não chegar atrasada.
A estrada até a escola já não doía tanto. A pracinha tinha mais cores, o coreto já não parecia um cenário distante da minha infância. As mães na porta da escola mediram meu passo — parte curiosidade, parte julgamento, parte boas-vindas. A diretora Helena nos encontrou no corredor com um aceno caloroso. Amber, de mãos dadas com sua nova amiguinha, Geovana, entrou para a sala sem nem olhar para trás; a dois