— VOCÊ FEZ O QUE?
Quando chamei Andressa em minha mesa, para assinar alguns papeis, resolvi contar a ela sobre Mark. Já tinha mais de uma semana do ocorrido e eu não aguentava mais segurar aquela história apenas para mim.
Eu só não esperava que minha pequena amiga advogada, fosse gritar no meio do escritório, chamando toda a atenção para nós.
Sorrio sem graça para os olhares de reprovação que recebemos e puxo-a para mais perto de mim.
— Não grita, maluca.
— Você diz que contratou um garoto de programa para levar na festa e espera que minha reação seja qual?
— Ah... — olho para a tela do computador, com a vergonha já tomando conta de mim. — Sei lá..., mas não precisa de tudo isso.
O celular dela apita e ela o olha, antes de balançar a cabeça e direcionar seu olhar para mim.
— Você vai me explicar tudinho no almoço.
Andressa volta para a andar onde trabalhava, me deixando sozinha com as olhadas tortas e as minhocas em meu estomago. Para que ela foi mencionar o almoço? Agora eu quero comer.
Eu decidi contar a ela sobre Mark por dois motivos: o primeiro porque ela é minha melhor amiga e nós não mantemos segredos uma da outra. E o segundo e mais vergonhoso, é que eu não conseguia tirar aquele homem da minha mente.
Já tinha uns dez dias que a festa tinha ocorrido e eu havia sonhado com ele em cinco deles. Não conseguia esquecer aquele sorriso; o sotaque carioca; e pior, a olhada que ele me deu antes de enfiar a língua nas minhas partes intimas.
Ao invés de ir atras de alguém que possa me dar o que quero, fico repassando os poucos momentos que tive com o homem de três mil.
— É loucura. — Andressa diz, quando conto tudo o que omiti. — Você fez isso só para não te zoarem?
— Só? Para você é fácil falar. Não é de você que tiram sarro há anos, apenas pelo fato de nunca ter um namorado.
Cruzo os braços, irritada pelo descaso que minha melhor amiga fez com a minha decisão. Embora eu saiba que não tinha sido a escolha mais adulta que fiz na vida, eu só queria o apoio dela.
— Você gastou três mil reais, Leticia! — ela fala, exasperada. — Três mil reais, para levar um homem a um open bar. Logo vemos quem saiu ganhando nessa história toda.
— Andressa, já foi. Não estou contando isso a você, querendo a sua reprovação. O dinheiro era meu! E já gastei. Gastei com algo que, mesmo que tenha durado menos de uma noite, me foi muito satisfatório. Ninguém me chamou de solteirona essa semana. NINGUEM! Então, eu sou a pessoa que saiu ganhando nisso tudo.
Ela rola os olhos e suspira.
— Está bem, Leticia. Não vou mais falar uma palavra sobre esse assunto.
— Ótimo.
Sendo as duas orgulhosas que somos, não falamos mais nada até o fim do almoço. Voltamos para o escritório em um completo silencio, com a qual não estamos acostumadas.
Passei o dia inteiro de cara emburrada e respondendo todas as pessoas com grosseria. E no final do expediente, vinha mais uma surpresa. Serafine reuniu todas as pessoas no escritório e disse que iria revelar seu substituto.
— Eu ouvi coisas maravilhosas durante a festa. Não só eu, mas o comitê da presidência também. Todos vocês são maravilhosos no que fazem e não fariam outra coisa melhor do que isso. Então sem prolongar mais do que já estamos, vamos a decisão. — ela me olha e sorri. Será que estava me dando uma resposta subliminar? — Essa pessoa nos deu o melhor resultado em anos e sei que irá dar ainda mais, agora que estará em um cargo de chefia. Jefferson!
O sorriso largo que eu tinha aberto desde a olhada de Serafine, foi desmanchado aos poucos. Enquanto todos felicitavam ele, pego minhas bolsas e tento sair de fininho. Serafine me encontra antes que eu possa entrar no elevador.
— Ei, Leticia!? — a olho e dou um sorriso tristonho. — Eu tentei muito que fosse você ali, mas o comitê achou que Jefferson seria um chefe mais eficaz.
— Tudo bem, não estou triste. Fica para a próxima.
A quem estou tentando enganar? Só não estou chorando para não ficar ainda mais mal falada entre eles.
— Esse dia definitivamente não tem como piorar. — murmuro, encarando minha imagem triste no espelho do elevador.
Saindo do prédio e olhando meu celular esperando o uber, não vejo o buraco na calçada e tropeço, fazendo com que meu aparelho usado muito pouco, caia e quebre toda a tela.
— Que inferno! — reclamo, batendo com o dedo na tela do celular. Não dava para enxergar nada.
Não demora para que um carro pare ao meu lado, confirmo o nome dele, entro e vou para casa com ainda mais raiva e tristeza que antes.
Após um banho longo e repleto de lagrimas, vou diretamente para a cama. Embora meu estomago implorasse por comida, era isso que eu costumava fazer quando estava triste. Ignorava todo e qualquer pedido por comida e dormia, doida para que um novo dia começasse e toda aquela dor se fosse.
Antes que eu pudesse cochilar, meu celular com a tela destruída, toca. Eu não conseguia ler nada, então atendo sem saber quem era.
— Alô?
— Desde quando você me atende assim? – era Rayane. Minha irmã mais nova.
— Ah. Oi, Ray. Deixei o celular cair e não consigo ver nada na tela.
— Que merda, Let.
— O que manda? — questiono, me sentando na cama. Ela raramente ligava e se o fez, algo queria. — O que fez?
— Eu tenho uma novidade!
— Então...
— Mas só contarei no almoço de domingo na casa da mamãe.
— Ah não! — resmungo. — Não estava nos meus planos ir almoçar em casa. Não estou a fim de ouvir gracinhas de mais ninguém.
— Leticia, será um dia importante para mim! Preciso de toda a família reunida.
Arqueio uma sobrancelha diante daquela pista. Dia importante?
— Eu só vou com uma condição. Me conte o que irá falar.
Rayane bufa e eu sei que consegui o que quero.
— Eu vou me casar.
É. Acabou de ficar ainda pior.