Com a própria camisa Dante pressionou o tecido contra o corte das costas de Elena, que arfou alto, os ombros se arqueando. A dor queimava, e ela mordeu o lábio até sentir o gosto metálico do próprio sangue. Mesmo assim, não chorou.Ele se aproximou mais, ajoelhado sobre ela, a respiração pesada denunciando algo mais do que pressa ou nervosismo. Seus dedos eram firmes, mas a forma como seguravam o pano era quase reverente, como se o toque pudesse curá-la ao invés de machucá-la.— Está sangrando muito. — murmurou, mais para si mesmo.Elena virou o rosto, tentando vê-lo, mas tudo que enxergava era a silhueta, a máscara que cobria seu rosto. Aquilo a incomodava desde o primeiro instante.— Por que você usa isso? — sussurrou, a voz fraca, mas firme. — A máscara. O que você esconde?Dante não respondeu de imediato. Os olhos se levantaram, encontrando os dela por uma fração de segundo. Havia uma faísca ali. Algo cru. Denso. Algo que se contorcia entre verdade e desejo.— Não me pergunte mais
Elena já havia perdido a noção do tempo desde que os passos dele se apagaram no corredor. O silêncio que se seguiu foi como um manto espesso, sufocante, quebrado apenas pelas batidas descompassadas do próprio coração. A dor nas costas pulsava em ondas densas, quase ritmadas, mas era o vazio dentro de si que mais a perturbava — um vácuo escuro, ecoando uma única frase que não conseguia afastar: “Eu me importo. Mais do que deveria.”As palavras reverberavam dentro dela como uma maldição sussurrada num templo abandonado. Cada repetição fazia seu peito apertar, como se não houvesse mais ar para respirar. E do outro lado da porta, o mundo parecia suspenso — imóvel, como uma fotografia em tons de cinza. Até que o estalo seco da fechadura a arrancou desse transe.Ela se sentou de súbito na beirada do colchão, o corpo tenso, os olhos arregalados. O coração, antes lento, agora martelava no peito com a força de um tambor tribal. A luz fraca que escorria pelas frestas das cortinas tremulava, pro
Elena cruzou os braços, tentando sufocar a ansiedade, e voltou o olhar para o jardim abaixo. Mesmo envolto em sombras, o canteiro de peônias exibia um brilho quase mágico sob a luz pálida da lua. Os tons suaves das flores contrastavam com a frieza daquela prisão luxuosa, quase zombando dela.Foi então que um som inesperado cortou o silêncio.A porta se abriu às suas costas com um estalo suave.Ela não se virou. Sabia quem era. O homem da máscara negra, o enigma que a mantinha ali, deveria ter vindo reclamar por ela ter mexido em suas roupas. Elena não estava com humor para outro de seus silêncios carregados ou ordens secas.Mas a voz que preencheu o ambiente foi outra.E aquilo... a desmontou por dentro.— Elena...?O nome escapou num sussurro incrédulo, cheio de emoção e medo.O coração dela disparou.Um arrepio percorreu sua pele e, antes mesmo de se virar, seus lábios se curvaram em um sorriso de puro alívio — um gesto raro, esquecido nas últimas horas. Ela conhecia aquela voz. Con
Quando Dante retornou ao quarto, o ambiente parecia envolto por uma penumbra suave, com as cortinas entreabertas permitindo que a luz pálida da lua escorresse pelo carpete como um véu prateado. O som distante do vento sussurrava através das frestas da janela, como se o próprio mundo prendesse a respiração.Elena estava ali, confortavelmente instalada em sua poltrona favorita, com as pernas encolhidas sob o tecido macio, parecendo dona do lugar. Seus olhos — de um azul penetrante — o observavam com uma curiosidade quase felina, como se cada gesto dele fosse parte de um mistério que ela se divertia em decifrar.Era óbvio que uma tempestade de perguntas dançava em sua mente, mas antes que qualquer palavra escapasse de seus lábios, Dante cortou o silêncio com uma ordem seca:— Levante-se!Ela arqueou as sobrancelhas, como se aquilo fosse a coisa mais absurda do mundo, e esboçou um meio sorriso irônico — aquele que sempre deixava Dante dividido entre o desejo de sorrir de volta ou jogá-la
Assim que o primeiro raio de sol atravessou as pesadas cortinas do quarto, o celular de Dante vibrou com o alarme habitual sobre a mesinha de cabeceira. O som era suave, programado para não ferir os ouvidos — como tudo que envolvia sua rotina meticulosa. Sem sequer olhar o visor, ele esticou o braço e desligou o aparelho com um toque automático, permanecendo deitado, os olhos fixos no teto acima de si.Aquela manhã, diferente das outras, não lhe trouxe paz.Seu peito pesava com estratégias e pensamentos que giravam ao redor de um único nome: Alejandro.Não podia continuar escondido, esperando o próximo golpe. Isso não era do seu feitio. Ele precisava agir. Atacar. Mostrar quem era o verdadeiro predador naquele território. Mas como?Se levantasse demais o véu, se tornaria alvo. Se ficasse quieto demais, daria espaço para que Alejandro crescesse como erva daninha em seu quintal. Dante precisava encontrar o ponto exato entre a ameaça velada e o caos cuidadosamente orquestrado. A simulaçã
Elena tomou banho o mais rápido que pôde, sentindo a água escorrer por sua pele como se quisesse lavar também a inquietação que a dominava. Seu coração batia acelerado, impulsionando-a para fora daquele quarto sufocante — e ainda mais para o reencontro tão aguardado com sua irmã.Ao sair do banheiro, ela se aproximou da porta de vidro, coberta precariamente por sacos de lixo presos sobre o buraco na vidraça. Espiou através das frestas improvisadas e se deparou com um espetáculo quase cruel: o céu de um azul impecável, límpido e sem nuvens, contrastando com a tempestade que rugia dentro dela. Pássaros cortavam o ar em revoadas frenéticas, como se zombassem de sua prisão. Mais abaixo, o jardim se estendia vibrante; as peônias balançavam sob a carícia morna da brisa, exalando um aroma doce e quase entorpecente que não conseguia atravessar a barreira de vidro, mas que sua imaginação parecia captar.Ao longe, o som das ondas quebrando contra as pedras trazia uma melodia áspera, revoltada,
Aquela ligação era tudo o que Dante queria — um convite à guerra disfarçado de desespero. O plano seguia perfeitamente. Os vídeos forjados de Elena em um cativeiro obscuro tinham surtido o efeito esperado: Alejandro estava à beira do descontrole.Mas Dante queria mais. Sempre queria mais.Não se importava, de fato, com seu secretário, Demétrio. Era apenas uma peça no tabuleiro, facilmente sacrificável. O único motivo de ainda não tê-lo descartado era o elo invisível que o ligava a Dimitri, o irmão gêmeo de Demétrio — o único homem por quem Dante nutria algo próximo de apreço.Dimitri havia salvado sua vida num momento em que a maioria correria. Arriscou tudo por ele. Esse tipo de coragem Dante não esquecia. E, embora não demonstrasse, era grato.O ambiente ao redor exalava poder e silêncio. As paredes altas, cobertas por cortinas escuras, abafavam o som do mundo. Um abajur de vidro antigo, de tom âmbar, projetava sombras dançantes sobre os móveis imponentes do quarto. O ar era denso,
O estrondo dos tiros rasgou o ar, misturando-se aos gritos apavorados que ecoavam pela boate. O desespero tomou conta do ambiente, pessoas corriam em todas as direções, esbarrando umas nas outras, derrubando mesas e copos no chão. Luzes piscavam freneticamente, criando sombras fantasmagóricas que tornavam a cena ainda mais caótica. No palco, Elena estava encolhida no chão, escondida atrás da mesa de DJ que, até poucos segundos atrás, vibrava ao som da sua música eletrônica. Seu coração martelava contra o peito, um tambor incessante de puro pavor. O ar cheirava a pólvora e suor. Com as mãos trêmulas, ela tentava inutilmente esconder a cabeça, como se pudesse se tornar invisível. Então, de repente, um silêncio sepulcral tomou conta do ambiente. Elena prendeu a respiração. O medo a consumia por completo, seus músculos estavam rígidos, incapazes de reagir. O que aconteceria agora? O silêncio foi quebrado por passos firmes e cadenciados, ressoando no piso como se pertencessem a um p