A SUV preta serpenteava pela estrada esburacada, deixando para trás a zona de conflito — um caos de fumaça e corpos que ainda sangravam sob o calor implacável do fim de tarde. O sol se escondia atrás de nuvens carregadas, tingindo o céu com tons de ferrugem e carvão, como se o próprio mundo estivesse prestes a explodir.
Dentro do veículo, o ar era denso, quase sólido. O cheiro metálico da pólvora misturado ao suor e ao sangue formava uma névoa invisível que ardia nas narinas. As respirações estavam ofegantes, pesadas. Era como se o silêncio grunhisse por entre os estofados do carro, sujos de poeira e borrões escuros.
No banco de trás, o corpo estirado de um homem parecia alheio ao movimento do carro. Seu peito subia e descia com dificuldade, e seus olhos semicerrados lutavam para se manter abertos. O sangue escorria em linhas grossas, desenhando caminhos vermelhos sobre a roupa encharcada.
Demétrio reconheceu o som antes mesmo de encarar o rosto. Um gemido rouco, arrastado, carregado