Isabel Matarazzo
Eu estava com tanto medo de falar com ele. Medo de olhar nos olhos dele e ver desprezo. Medo dele nunca me aceitar.
Era um medo que eu carregava há 28 anos, junto com as cicatrizes que ninguém via.
Sentamos no jardim, próximo à churrasqueira. O céu estava bonito demais para um momento tão dolorido. E talvez fosse por isso que doía mais, porque o mundo lá fora continuava igual, enquanto o meu estava prestes a ruir.
Ele ficou em silêncio por um instante. O tipo de silêncio que pesa mais do que qualquer grito.
Então, falou.
— Isabel — ele disse meu nome, sem me olhar nos olhos.
Meu coração se apertou.
Era estranho.
Era devastador.
Um filho me chamar pelo nome, como se eu fosse uma desconhecida.
E, para ele, talvez eu fosse.
— Meus irmãos me contaram tudo. — A voz dele era contida, mas firme. — Eu consigo entender o que você passou. Não a sua dor, porque eu não vivi ela... Mas... Isabel... é querer muito de mim que, depois de vinte e oito anos, eu esteja de braços abertos