Liam Rodrigues
Eu não sei o que doeu mais: as palavras que ela disse ou aquelas que eu mesmo precisei engolir por vinte e oito anos. Aquela mulher à minha frente dizia ser minha mãe. Minha mãe.
E, por mais que tudo dentro de mim gritasse para rejeitar isso — para fugir daquela cena como fugi de tantos lugares antes —, eu não consegui sair dali. Algo me prendia. Talvez fosse o jeito como ela falava. Ou a dor nos olhos dela que se parecia tanto com a minha.
Eu passei minha vida aprendendo a não esperar nada de ninguém. Porque esperar... dói.
E naquela tarde, naquele maldito jardim com cheiro de carvão velho e flores podadas, eu voltei a ser aquele menino. O menino com a camisa rasgada, segurando uma flor arrancada do mato, com os olhos colados no portão do orfanato. Esperando.
Ela chorou. E não foi o tipo de choro que se faz pra comover. Foi um choro que vinha de dentro, das entranhas. Um choro que eu reconheci. Porque era o mesmo tipo de choro que eu fazia debaixo da coberta fina, com