Após a trágica morte de sua irmã e cunhado, uma renomada empresária se vê repentinamente responsável por seus quatro sobrinhos órfãos. Sem ter alternativa a não ser assumir a guarda das crianças, ela se vê diante do desafio de conciliar sua carreira exigente com a nova responsabilidade familiar. Para garantir que os sobrinhos recebam todo o cuidado necessário, ela contrata um babá, um homem gentil e atencioso, que rapidamente conquista o coração das crianças e o dela também. Enquanto lida com os desafios da maternidade improvável, ela se vê envolvida em um triângulo amoroso inesperado com o filho de seu chefe, criando uma situação complicada e emocionalmente intensa que desafia seu equilíbrio entre o trabalho e a família.
Ler maisPriscila Barcella
Era mais um dia normal. Como sempre, acordo às 6:23 da manhã, levo aproximadamente 20 minutos para me arrumar e escolho roupas que transmitam o quanto sou poderosa. Saio do meu quarto preparada para enfrentar o mundo machista das torres de metal. Assim que chego no andar inferior, vejo a minha governanta terminando de organizar o meu café da manhã na mesa da sala de jantar, junto com duas funcionárias. Gosto das coisas sempre perfeitamente alinhadas, e ela me conhece muito bem. Antes de chegar à mesa, olho pela grande janela de vidro da minha cobertura, de onde posso ver a enorme cidade cinza. Assim como lá fora, dentro do meu apartamento a decoração é toda em tons frios, pois tenho um amor pelo tom cinza e não queria nada convidativo. Quem gosta e tem peso morto é a minha irmã. Eu nunca a entendi, a Barcella sempre se contentou com pouco. Diferente de mim, ela não foi para a faculdade e muito menos quis sair daquele lugar no meio do nada. Na primeira oportunidade que tive, vim para São Paulo sozinha e com muita garra para lutar. Ela se contentou em ser dona de casa, engravidou quando estava ainda no ensino médio de outra pessoa. Eu quase não falo com ela, não entendo como somos tão diferentes, mas ao mesmo tempo tão iguais. — De novo olhando para a foto da sua irmã? — a senhora Josefa fala, me assustando. Volto a alinhar o porta-retrato com a única foto que tenho com ela quando éramos crianças, e só a mantenho porque no fundo tem um pedaço da minha mãe, no dia que nunca consegui esquecer. — Já avisei que não gosto que se metam na minha vida — falei, ajeitando a minha bolsa. — Josefa, tenho que ir... — Mas a senhora nem tocou no café da manhã. — Perdi a fome... — falei com certa frieza. — Hoje é o aniversário da sua sobrinha, a Joyce comentou — diz Josefa. — Tá! Parece que ela faz vários aniversários no ano. Mas compra qualquer coisa e manda para ela. — Sua irmã te convidou para o aniversário — diz Joyce ao entrar na sala, ela além de minha secretária e minha assistente pessoal, adora se meter na minha vida, e ela, como sempre, agoniada, pegando uma fatia de bolo de rolo — Você deveria ao menos ligar, ela sabe que você não vai por ser longe. — ela falou e voltou a comer. — Faça como faço todo ano, mande uma boneca para a Isis, essas coisas que crianças gostam e está de bom tamanho. Vamos, o dia será longo e hoje está lindo para ser conquistado. — O nome da sua sobrinha é Íris, e ela fará 14 anos, suponho que ela não gosta mais de bonecas, a juventude de hoje não é mais como antigamente — ela falou e olhei para ela incrédula, ela fala como se tivesse a idade da Josefa, sendo que ela tem só 25 anos. — Tanto faz, se vira. Quero saber sobre a reunião com os franceses, não sobre uma menina da qual não faço questão de saber quem seja. Vocês deveriam saber que para essas coisas eu não quero ser incomodada. Mas me fala Joyce, está tudo certo com os produtos? — pergunto, pegando a minha bolsa. Começo a andar e percebo que Joyce não está me seguindo. — Joyce — a chamo, logo a vejo correr, com um sanduíche, bebeu um copo com suco de maracujá e veio correndo com uma maçã na mão e pego o elevador comigo. Ela passou toda a minha agenda no carro para agilizarmos, pois hoje eu teria uma reunião no Rio de Janeiro com os franceses e sorri ao chegar no prédio da empresa FOS, a maior marca da publicidade do continente americano. Assim que entro, vejo todos olharem para mim. Sou a C.M.O., chefe de marketing office, mas meu objetivo é chegar ao último andar e ser a primeira CEO da empresa. Vou lutar muito por isso. Estava na minha sala lendo uns e-mails, precisava adiantar umas coisas, já que à tarde eu iria para o Rio de Janeiro. — Senhorita Barcella, o senhor Salles pediu uma reunião de emergência. Estou transferindo as suas reuniões da manhã para a próxima semana, é para remarcar o seu encontro? — Que encontro? — pergunto, me ajeitando para sair da sala. — Com o senhor Wil, o rapaz que a senhora Natália... — Pode cancelar — falei ríspida. Eu só aceitei para ela deixar de me incomodar. E daí que eu já tenha 33 anos e não tenha ninguém, não quero ancoras na minha vida. A Natália, como minha amiga, já deveria saber disso. E sinceramente, não sei porque ainda cedo às vontades dela, mas será até uma boa desculpa para não ver mais um idiota que não entende que não tolero que ninguém se envolva no meu caminho. Fui para a sala de reuniões, ou como eu sempre chamo, o matadouro. Entrei na sala e, como era de se esperar, fui uma das primeiras a chegar. Odeio atrasos e, assim que cheguei, vi o senhor Salles. — Como sempre pontual, senhorita Barcella — ele falou, sentando em sua cadeira. — O senhor sabe do meu total comprometimento com esta empresa, por que o senhor marcou esta reunião? — perguntei. — Você saberá junto do senhor Vilar — ele falou. Sinceramente, não suporto o Felipe Vilar, ele com toda certeza é uma pedra no meu sapato. — Bom dia, senhor Salles, um expresso — ele falou, entregando o copo de café para o nosso chefe, como sempre um puxa-saco. — Bom dia, senhorita Barcella. — Bom dia — falei, colocando meu sorriso mais falso no rosto. Para mim, é um grande esforço quando se trata do Felipe Vilar. — Vou começar antes dos acionistas chegarem. Vocês já estão sabendo que vamos abrir uma filial em Toronto, e os acionistas me pediram nomes. Vejo potencial em ambos, mas preciso saber se vocês estão dispostos a se mudarem. — Senhor Salles, me sinto honrada por ter pensado em mim. Como o senhor sabe, eu não tenho nada que me prenda a esta cidade e, se for o melhor para a empresa, aceitarei a mudança com tranquilidade — falei, e ele sorriu. — Eu sei que posso contar com você, senhorita Barcella. E você, Vilar, vai querer conversar com a sua esposa primeiro? — o senhor Salles perguntou, como sempre preocupado, afinal a esposa do Vilar é sobrinha do senhor Fos. — Eu também estou disposto, e não se preocupe com a minha esposa, ela sabe o lugar dela — este comentário só me dá mais vontade de partir a cara dele, como se a mulher tivesse que ser submissa. — Bom saber que os dois estão dispostos a se mudar. Só espero que vocês joguem limpo. Eles vão estar avaliando vocês dois. E já que tocamos neste assunto, eu quero ver o que o Marketing pensou para a nova campanha — ele falou e sorriu. Mostrei todas as principais campanhas que estamos elaborando. O restante do dia foi bem corrido, além de algumas reuniões com clientes importantes. Eu tinha que reunir com os meus designers para aprovar as apresentações que ocorreriam no dia seguinte. Ainda fui para a reunião no Rio de janeiro. Cheguei em casa já eram mais de 02:00 horas da manhã, pensando que a campanha tem que ser impecável. Eu não posso perder esta oportunidade. Foram dois dias corridos e com muita dedicação, quase não tive tempo para parar, e quando chegou a quinta-feira de madrugada e estava chegando do trabalho, depois de uma reunião cansativa e depois de quase duas horas no trânsito. Assim que entrei no meu quarto, vi uma foto minha com a pilar do nosso aniversário de 18 anos. Eu não via essa foto há tanto tempo e não sei quem a colocou ali, mas sorri. Vi que atrás tinha um cartão e peguei, reconhecendo na hora a letra da minha irmã. " Feliz aniversário, maninha. Quando tiver um tempo, me ligue. Estou com saudades da minha gêmea." Peguei meu celular, queria ligar para ela. Eu sempre quero, porém nunca ligo. Desta vez, liguei pensando que pelo horário ela não iria atender, mas para a minha surpresa, no segundo toque ela atendeu. — Feliz aniversário — ela falou. Mesmo sem vê-la, eu sabia que ela estava sorrindo. Só aí me lembrei do nosso aniversário. Sinceramente, eu não comemoro essa data há muito tempo e tinha até esquecido que hoje era dia 01 de fevereiro. — Feliz aniversário — falei, meio sem saber o que dizer. Já faz anos que não ouço a sua voz. — Nem acredito que você me ligou, você sempre está ocupada — ela falou animada e pude ouvir um chorinho distante. — Desculpa, Priscila, eu vou ter que desligar, a minha bonequinha acordou. Tenha um feliz aniversário. Quando puder, me ligue. Sei que sua vida é agitada, mas se puder ser de dia, é mais fácil — ela falou antes de desligar. Fiquei ali olhando para a nossa foto até dormir, mas não demorei muito para acordar. Como todos os anos, não comemoro meu aniversário e foquei apenas no meu trabalho. Mas quando cheguei em casa, estava com uma dor forte no peito. Tomei apenas um calmante e dormi. Acordei na manhã seguinte, um pouco mais tarde do normal, mas ao descer, a Joyce já estava na cozinha e não estava com uma cara boa. — O que aconteceu? — perguntei, sabendo que não era coisa boa. — Senta, por favor, senhora — pediu a Josefa, algo novo. — O que aconteceu? Falem de uma vez só — falei um pouco alto. Odeio que me escondam as coisas. Elas olharam para mim e logo se olharam. — A sua irmã... — Fala logo, Joyce, o que tem com a Barcella. — perguntei um pouco hostil, odeio quando não são diretos. — Ela sofreu um acidente de carro com o marido... — Mas como ela está? — perguntei, realmente preocupada. Pela cara da Joyce, sabia a resposta que eu não queria ouvir. Respirei fundo, não podia chorar na frente delas. — Qual a minha agenda? — perguntei, respirando fundo. — A senhora quer que eu cancele e compre a passagem? — ela perguntou. — Não, eu vou trabalhar. — Senhora, o conselho tutelar ligou, seus sobrinhos não têm mais ninguém. — Como assim? — perguntei, sem entender. — Senhora, você sabe que depois que os seus pais morreram, só ficaram vocês duas, e pelo que parece o seu cunhado não tem família. Bem, ele tem um tio... — Está aí, as crianças ficam com este tio, situação resolvida. — Este tio foi preso então é simples, eles só têm você. Priscila, eu sei que todos acreditam que você tem um coração de pedra, mas você não é assim. Eles são sua família e perderam os pais, não têm ninguém por eles. Ou é você, ou um abrigo. O que você acha que a sua irmã iria achar dos filhos serem separados? — a Josefa falou, triste. É verdade, eu não posso abandoná-los. — Joyce, por favor, compre as passagens. Eu vou arrumar minha mala. Fui para o meu quarto e corri para o banheiro, sentando no chão do box com roupa e tudo, deixando as lágrimas rolarem. Como assim ela está morta? Eu falei com ela, e estava bem, e do nada ela morreu. Ela não está mais aqui. Apenas chorei. Como ela pode ser tão egoísta e morrer dessa maneira? Ela não deveria ter morrido. E agora eu voltarei para aquele fim de mundo. Eu pensei que nunca mais iria voltar, mas terei que ir, e nem sei o que me espera. ©©©©©©©©©© Continua...PRISCILA BARCELLADepois que chegamos, eu já tinha todo o plano armado. Manoel viria com a família no dia seguinte pra me ajudar com os últimos detalhes da surpresa no orfanato e, claro, com a festa de aniversário do Liam.Tudo estava organizado — ou o mais perto disso que se pode ter com cinco crianças em casa. O maior desafio era manter a empolgação dos pequenos sob controle. Por isso, só Íris sabia da surpresa. Ela era minha cúmplice. Minha parceira.E, mesmo tendo só sete meses de convivência desde eles chegaram na minha vida, a nossa conexão era de alma. Como se, de alguma forma inexplicável, nossos corações tivessem se reconhecido antes mesmo dos nossos olhos se cruzarem.Eu estava no banheiro, com o cabelo molhado preso em uma toalha e o rosto coberto de creme, quando a porta se abriu de repente.— Mãe, tá tudo certo mesmo pra gente enganar o papai? — Íris perguntou, já entrando com aquele jeito decidido de quem não consegue mais guardar segredo nem por mais um minuto.— Filha
LIAM RODRIGUESO pouso foi tranquilo. Meu coração, nem tanto.Aterrissamos em Fortaleza às 15h17. Quase cinco horas de voo — e umas boas doses de emoção acumuladas.O céu nordestino nos recebeu com um azul intenso, tão diferente do cinza de São Paulo. O sol ainda estava alto, mas o calor era outro. Não aquele abafado e sem graça da cidade grande... era um calor com cheiro de mar, de dendê, de lembrança.Respirei fundo assim que os pneus tocaram o chão.Eu estava de volta. Depois de tanto tempo.— A gente chegou! — Belinha comemorou, pulando no assento antes mesmo do avião parar por completo.— Calma, pequena. Espera o avião parar — falei, rindo. Ela nem me ouviu. Os olhos estavam colados na janelinha, brilhando de empolgação.Do outro lado, Ítalo observava tudo com a testa franzida.— Aqui é onde você morava, né, pai?Assenti, com um sorriso nostálgico.— É. Aqui o papai cresceu. Ou tentou...Ele não disse nada, só me surpreendeu com um abraço apertado, silencioso. Daqueles que dizem
Liam Rodrigues Eu ainda mal consigo acreditar que estou voltando para Fortaleza… com a minha família. Lembro da promessa que fiz à Tia Gileide, anos atrás: que um dia voltaria ao orfanato para apresentar a minha família. E agora, esse dia chegou. Dessa vez, eu não vou sozinho. Estou voltando com tudo o que tenho de mais precioso — e até com a minha mãe. — Eu amo viajar de avião! — Belinha falou, empolgada, enquanto se sentava ao meu lado. Fiquei com a Belinha e o Ítalo. Priscila ficou com a Mavie e a Nina, e minha mãe se sentou com a Íris. Na verdade, estava mais para a Íris cuidando da avó... Minha mãe morre de medo de avião. E eu entendo. Ela perdeu um filho num acidente aéreo. Não deve ser nada fácil encarar um voo depois disso. Eu queria estar ao lado dela, segurar sua mão, dizer que vai dar tudo certo… Mas temos mais filhos do que adultos, então precisamos nos dividir. Ainda bem que a Íris é madura e sensível. Sei que ela vai saber exatamente como cuidar da avó — como
Priscila BarcellaMesmo com tanta coisa ainda me dando medo… medo do meu tio, da Marina, ou de qualquer um que possa estourar essa bolha de felicidade que construí com tanto esforço… hoje, olhando a Mavie dormindo ali, tão frágil, tão pequena, sem nenhuma armadura…Eu me dei conta de algo precioso: apesar de tudo, eu fiz boas escolhas.Principalmente a de ser mãe dela.E como um sussurro vindo do passado, uma lembrança adormecida se acendeu dentro de mim.---LembrançaNaquele dia, eu estava exausta. Tinha acabado de sair de uma reunião interminável. Meus pés latejavam no salto, minha cabeça pulsava, e tudo o que eu mais desejava era uma massagem — ou desaparecer do mapa por umas boas horas.Sentei no sofá do meu escritório, respirei fundo e levei as mãos até a barriga. Estava com 22 semanas — cinco meses. Ainda era cedo pra chamar atenção. Com uma blusa mais larga, ninguém sequer imaginava que havia uma vida crescendo ali.Mas eu sabia.Ela estava lá.E, naquele instante, se mexeu.—
Tudo começou quando eu ouvi um barulho bem esquisito, tipo uma colher batendo em um vidro. Mas ninguém tava fazendo sobremesa. Nenhuma fatia de pudim. Nenhum mousse. Nada.Olhei em volta. Eu estava sozinha no meio de uma floresta escura. Mas não era uma floresta normal, tipo as dos livros da escola com coelhinhos fofos e passarinhos cantando. Era uma floresta assombrada, do tipo que até a luz da lua parecia com medo de aparecer. As árvores eram todas tortas, umas com galhos em forma de mãos, e outras... com olhos! Eu juro! Um deles me piscou!Quem pisca com o tronco?! Quem ensinou isso?!Comecei a andar bem devagarzinho, tipo ninja em missão secreta. Mas o chão fazia PLOC! a cada passo. Era mole e escorregadio. Olhei pra baixo...Gelatina.Não era qualquer gelatina. Era GELATINA DE MORANGO — e eu odeio gelatina de morango desde aquele dia no orfanato em que ela tremia mais que criança em frente ao dentista.Foi aí que ouvi.TOC… TOC… TOC…Salto alto. No meio da floresta. Porque, claro
Liam RodriguesDuas semanas depoisHoje era para ser um dia feliz. Para a maioria das pessoas, aniversários são sinônimos de alegria, de comemoração, de lembranças bonitas e sorrisos compartilhados. Mas para mim, essa data sempre foi um lembrete silencioso da ausência.Enquanto outros celebram com bolos, abraços e mensagens carinhosas, eu carrego um vazio difícil de explicar.Nunca soube ao certo o dia em que nasci. Essa data que carrego como meu “aniversário” é, na verdade, o dia em que fui deixado no portão do orfanato — enrolado em um cobertor fino, com um bilhete que se desfez com o tempo e nenhuma pista de quem eu era antes disso.É difícil explicar como é viver com esse tipo de dúvida corroendo por dentro. Todo ano, quando o calendário marca esse dia, sinto como se o mundo parasse por um segundo só para me lembrar que eu fui descartado. Que alguém olhou para mim e decidiu que eu não valia a pena ficar.Então não, hoje não é um dia feliz para mim. É apenas mais um lembrete do qua
Último capítulo