Após a trágica morte de sua irmã e cunhado, uma renomada empresária se vê repentinamente responsável por seus quatro sobrinhos órfãos. Sem ter alternativa a não ser assumir a guarda das crianças, ela se vê diante do desafio de conciliar sua carreira exigente com a nova responsabilidade familiar. Para garantir que os sobrinhos recebam todo o cuidado necessário, ela contrata um babá, um homem gentil e atencioso, que rapidamente conquista o coração das crianças e o dela também. Enquanto lida com os desafios da maternidade improvável, ela se vê envolvida em um triângulo amoroso inesperado com o filho de seu chefe, criando uma situação complicada e emocionalmente intensa que desafia seu equilíbrio entre o trabalho e a família.
Leer másPriscila BarcellaA dor tem cheiro.Tem gosto.Tem cor.E naquele instante, quando abri a porta, eu pude sentir o cheiro pútrido do passado invadindo minha casa.Era ele.O homem que destruiu minha infância, roubou minha inocência, me condenou ao inferno...E que agora, de pé na minha frente, sorria como se fosse apenas mais uma tarde qualquer.O tempo parou.Meu corpo inteiro congelou.Por um segundo, não fui a mulher forte que criei a duras penas, nem a mãe que protegia com unhas e dentes as crianças que agora dormiam inocentes ali dentro.Por um segundo, voltei a ser a Priscila de cinco anos, pequena, acuada, tremendo de medo no canto sujo do quarto escuro.Podia sentir o cheiro de mofo, ouvir os gritos abafados atrás da porta, o ranger do assoalho sob os passos pesados que anunciavam o pior.Minha respiração falhou.Meu estômago revirou.— Olá, querida sobrinha — disse ele, com a mesma voz repugnante de sempre, como se nada tivesse acontecido.Minha pele se arrepiou dos pés à cabe
Priscila BarcellaCheguei em casa apertando a Nina contra o peito, como se o calor dela pudesse aquecer as partes de mim que tinham congelado depois daquela visita. Meu coração ainda batia descompassado, pesado demais para ser carregado sozinha.Ao meu lado, Belinha caminhava cabisbaixa, arrastando o sapatinho no chão como se o peso da tristeza a puxasse para baixo.O padrasto do Max...Aquele homem...Ele tinha olhado para a minha menina e a chamado de Mavie.Meu mundo pareceu girar ao contrário por um instante. A dor rasgou meu peito, como uma ferida antiga brutalmente reaberta, sangrando lembranças que eu lutei tanto para esquecer.Mas eu respirei fundo, forçando o ar para dentro dos pulmões.Eu precisava ser forte. Pelas minhas crianças. Pelo Liam. Por mim.Assim que abri a porta, Íris e Ítalo vieram correndo me receber, com seus sorrisos puros e braços abertos.— Mamãe! — Ítalo gritou, se jogando na minha cintura com um abraço apertado.— Oi, meus amores — sorri, mesmo com o peit
Max Fox Tudo aquilo estava estranho demais. Meu peito pesava, como se um nó apertado tivesse se alojado bem no meio do esterno, e minha cabeça não parava de girar desde o momento em que ouvi. Por que, diabos, ela chamou a Isabela de Mavie? — A Priscila já foi com as meninas — a Rafaela avisou, puxando minha atenção de volta pra realidade. — Vamos pra casa? Assenti com um murmúrio e a segui até o carro. Assim que me sentei no banco do passageiro e a porta se fechou, o silêncio me sufocou por alguns segundos. Então, algo dentro de mim despertou. Foi quase um estalo. Um impulso. Uma urgência. — Quer viajar comigo? — perguntei, sem nem pensar direito. Ela me olhou de lado, o cenho franzido. — Viajar? Agora? — Preciso ter certeza, Rafa... — minha voz saiu baixa, carregada. — Preciso saber se a Mavie é mesmo minha filha. Se ela ainda está viva. Ela ficou em silêncio por um momento, como se processasse minhas palavras. — Max... — suspirou. — Isso dá pra resolver com um teste de DNA.
Priscila BarcellaDepois que o Liam saiu para trabalhar e levou o Ítalo e a Ísis para a escola, fiquei em casa com as menores. Mas, por mais que tentasse me distrair, meus pensamentos estavam longe. Estavam com o Max. Um aperto insistente no peito me lembrava, o tempo todo, do acidente. E, mesmo sabendo que eu não podia controlar tudo, me sentia culpada.— Mamãe, o que foi? — Belinha perguntou, tocando meu rosto com carinho e beijando minha bochecha. Seu gesto me arrancou um sorriso suave.— O que você acha de irmos visitar o tio Max? — perguntei, tentando soar animada.Os olhos dela brilharam.— Sim! Ouviu, Nina? Vamos ver o seu pai! — Nina bateu as mãozinhas, empolgada. — Ela também quer, mamãe! Depois podemos sair?— Podemos sim — falei, me levantando com cuidado e ajeitando Nina no colo. Fomos até o estacionamento, e mesmo com o trânsito um pouco pesado, o caminho até o hospital foi tranquilo. Belinha conversava com
Priscila BarcellaAcordei com aquele chorinho que eu já conhecia de longe. Nina. Era suave, manhoso, mas insistente — como se estivesse me chamando de volta pro mundo. E, de certa forma, estava mesmo.Me espreguicei devagar, ainda com o corpo pesado da madrugada, e fui até o berço. Assim que me viu, seus olhinhos brilharam, e os bracinhos se agitaram no ar, como se dissessem: "Você demorou, mamãe."— Bom dia, meu amor — sussurrei, pegando-a nos braços com o cuidado de quem carrega o próprio coração fora do peito.Ela se aconchegou em mim com aquele cheirinho de leite morno e tranquilidade, e eu fechei os olhos por um instante, sentindo aquele pequeno milagre respirando contra o meu pescoço. Era nesses segundos que eu lembrava por que ainda aguentava tudo.— Mamãe... — a voz sonolenta da Belinha me alcançou, meio engolida pelo travesseiro.Me aproximei da cama dela e me sentei com Nina no colo. A luz da manhã ainda era tímida no q
Max Fox “Priscila, precisamos conversar. É sobre a Mavie.”Minhas mãos tremiam enquanto eu encarava o celular. A mensagem estava escrita, pronta pra ser enviada. Um toque e tudo mudaria.— Max... — Rafaela se aproximou, com a voz suave, mas séria. — Espera.Olhei pra ela, a respiração acelerada.— Eu não posso esperar, Rafa. E se ela estiver viva? Eu preciso falar com a Priscila.Ela tocou meu braço, tentando me trazer de volta pro chão.— Eu sei. Mas… você já pensou no que essa mensagem vai causar nela?Pisquei, confuso.— Rafaela…— Não dá pra simplesmente mandar: “Oi, Priscila. A nossa filha pode não estar morta. A sua filha, aquela por quem você chora todos os dias em silêncio há quatro anos, pode estar viva. E sei lá, talvez esteja em qualquer lugar do mundo com pessoas que a gente nem conhece.”Ela falou de forma calma, mas firme. Suas palavras me atingiram como uma facada.— Você não sabe como ela sofreu, Max. Eu vi. Vi como ela se calou, como ela enterrou isso tão fundo que a
Max FoxÉ madrugada. A luz do quarto do hospital é fraca, e o silêncio só é quebrado pela respiração pesada de Rafaela dormindo. Ela murmura algo enquanto se remexe levemente. Ajeito o lençol sobre ela, tentando proteger o pouco de paz que ainda conseguimos manter. Mas meu peito aperta.Eu não consigo dormir.Não com esse gosto amargo na boca. Não com a lembrança do que minha mãe fez com a minha filha. E a culpa... a maldita culpa de saber que, se eu tivesse estado com a Priscila, nossa filha estaria viva. Estaria bem.A vontade que me consome é de sair desse hospital agora, voando até onde quer que ela esteja, e acabar com tudo. Com as próprias mãos, se fosse preciso. Mas, como sempre, ela está fora do país. Viajando. Luxando com o meu dinheiro. Com esse dinheiro maldito que, no fim das contas, custou a vida da minha filha.Levanto devagar. Desconecto o suporte do soro e começo a andar pelos corredores descalço, como um fantasma vagando pelos próprios erros. Parte de mim sente culpa
Priscila Barcella Acordei no meio da madrugada, sentindo um olhar sobre mim. Pisquei algumas vezes, tentando me situar, até encontrar Liam me observando com um sorriso sereno, os olhos brilhando com aquele afeto tranquilo que só ele sabia ter. — Dorme, amor… ainda é muito cedo — ele murmurou, deslizando os dedos pela minha bochecha com uma delicadeza que quase me fez chorar. Seu polegar traçou um caminho leve até o canto dos meus lábios, como se quisesse guardar meu sorriso mesmo quando eu dormisse. Fechei os olhos por um instante, me permitindo sentir aquela paz. A mão dele repousou em minha nuca, fazendo um carinho sutil e contínuo, como quem embala um segredo. Era tão bom tê-lo ao meu lado, sentir sua presença como um cobertor macio ao meu redor, como se nada pudesse me atingir. Mas a tranquilidade durou pouco. A lembrança das palavras de Ricardo me atingiu como uma lâmina fria: "Ela é a cara da irmã." O ar pareceu pesar nos meus pulmões. Um nó se formou na minha garganta, e a
Liam Rodrigues Eu sabia que Priscila precisava de um tempo. O dia não tinha sido nada fácil para ela. Com a casa silenciosa e as crianças fora, fui até a cozinha, esperando encontrar um pouco de café pronto. Mas a cafeteira vazia me obrigou a preparar um novo. Enquanto a água fervia, encostei-me no balcão, esfregando o rosto com as mãos. O cheiro forte do café logo começou a preencher o ambiente, trazendo um pouco de conforto para a noite pesada. Peguei uma xícara e enchi até a borda, envolvendo-a com as mãos para sentir o calor. Caminhei até a sala e me joguei no sofá, olhando para o horizonte através da janela. A cidade estava quieta àquela hora, um contraste gritante com o caos do dia. Queria que a noite terminasse logo, que a manhã trouxesse algo melhor. Mas sabia que nem sempre as coisas funcionavam assim. Soltei um suspiro, tomando um gole do café forte antes de me levantar. O cansaço pesava nos ombros, mas havia coisas que não podiam esperar. Liguei o notebook na mesa de ja