Isabel Matarazzo
Acordei antes do sol, como sempre fazia quando meus filhos eram pequenos. A casa ainda dormia, mas meu coração já estava em guerra. Preparei a cesta com todo o cuidado: frutas cortadas, pães frescos, um suco feito na hora. Até dobrei o guardanapo do jeito que a avó dele me ensinou, como se isso pudesse compensar alguma ausência passada.
Era o que eu sabia fazer: pequenos gestos. Tão pequenos perto da ausência imensa que deixei na vida do Liam.
Amar um filho em silêncio é uma das piores dores que existem. Porque o amor que não toca, que não acalma, que não embala, vira culpa. E eu carreguei essa culpa por vinte e oito anos.
Quando fui tirar o avental, a Vitória apareceu na porta da cozinha. Olhar aflito, como quem quer proteger todos ao mesmo tempo, mas não sabe de quem primeiro.
— Mãe, ele não quer te ver ainda — ela disse, baixo, mas firme.
Parei. Minhas mãos continuaram se movendo, tentando arrumar as alças da cesta, mas meu coração travou.
Ela se aproximou e seguro