"Alice. Está muito atrasada, quase meia hora. Você parou mais cedo ontem, era o seu dever estar aqui mais cedo por sua causa, todos os outros tiveram que trabalhar dobrado."
Telma falava brava como sempre, mas dessa vez, Alice sentiu um desânimo em sua voz. Ela abaixou a cabeça. "Me desculpe por isso. Não vai mais acontecer. Eu já estou melhor para trabalhar hoje." "Sobre ontem. Precisamos acertar algumas coisas. Não gosto de sua aproximação com o Sr. Daniel. Mas vejo que não tenho para onde ir, já que ele quer você lá. Mas preciso te deixar alerta sobre algumas coisas." Alice quase soltou um sorriso, mas se conteve. Porém, aquela era a primeira vez que Telma tinha que seguir uma ordem de Sr. Daniel a finco. Isso a deixou completamente estressada. "Tudo bem. Prometo que vou ser profissional." "Nao apenas ser profissional, minha querida. Eu conheço bem mulheres como você. Se aproximam querendo alguma coisa, ele tem dinheiro e gente como você, de origem tão pobre, eu sei que vai tentar seduzi-lo." Alice sentiu um calafrio na espinha. Ela não imaginava ser esse tipo de mulher, até se encontrar pessoalmente com Daniel, e ela não tinha como negar que passou sim pela cabeça tentar seduzi-lo. Mas mesmo sabendo que era errado, aquele sentimento não saia do seu coração. Ela ficou com rosto vermelho e tentou se esquivar daquela situação. "Mas o que está falando? Isso não é verdade e vou exigir que você me respeite. Ontem eu só entrei lá porque a senhora me pediu." Telma deu uma risada alta. "Minha querida. Não brinque comigo. Só tome cuidado. Eu realmente não sei o que aconteceu com o Sr. Daniel, isso nao é do seu feitio. Muito pelo contratos, ele sempre pediu para não deixar ninguém se aproximar assim. Mas estou te avisando. " Ela apontou o dedo para o rosto de Alice. "Se querer aplicar algum golpe. Tome cuidado, aqui não é o melhor lugar. " "Ora senhora. Recolhe esse dedo por favor. Eu já disse. Só trabalho aqui porque preciso de dinheiro e não passou pela minha cabeça fazer isso. Afinal, um homem de tantos anos solteiro, porque iria se interessar por mim? " Alice disse em tom alto. Mas por dentro do seu coração ela se perguntava a mesma coisa. "Mas que discussão toda é essa? " A voz de Daniel parecia ainda mais grossa de manhã. As duas se assustaram e calaram ao mesmo tempo, se virando em direção a voz. Daniel estava vestindo uma bermuda de alfaiataria e uma camisa polo, parecia que iria direto para o tênis após sair da Mansão. Ele nunca aparecia na cozinha ou na ala dos funcionários. Nunca que elas soubessem. Mas em segredo Daniel vivia fazendo isso, quando nao queria ser pego saindo pela porta da frente. Principalmente para fugir das perguntas e reclamações da Senhora Telma. Mas aquele dia ele sairia pela porta da frente. Foi quando a discussão chamou sua atenção. "Não é nada demais senhor. Apenas estava delegando algumas ordens para Alice. Já que ela chegou mais tarde do que o normal." Alice olhou diretamente para Daniel. Esperando que ele chamaria sua atenção por chegar atrasada. Mas a reação dele a surpreendeu. "Como você está, Alice? Melhorou da sua mão?" Sua voz tinha ficado calma. Com surpresa Alice foi sincera ao responder. "Sim senhor. Está bem melhor. Aliás, queria perguntar algo sobre o creme que me deu. " Ela se lembrou, apesar de que iria falar primeiro com o pai sobre aquela descoberta. Mas Daniel já estava ali e ela queria motivos para conversar diretamente com ele. Telma estava agitada, batendo o pé no chão, achava uma grande insolência a subordinada falar tão informal com o patrão. "Pergunte outra hora. Tenho certeza que ele está atrasado, não é Sr. Daniel?" Ela perguntou se virando para ele. "Um pouco, mas pode falar Alice. Qual dúvida você tem ?" Ele parecia paciente. "Bom, eu acho que reconheço esse creme, e também…" Alice foi interrompida pela jardineiro Afonso, que entrou em disparada procurando por Telma. "Senhora Telma. Temos um problema urgente. " Ele só parou de gritar por se deparar com Daniel parado ali, na frente das duas mulheres. "O que está acontecendo nessa casa hoje? Porque estão com os ânimos exaltados. " Ele perguntou, e pelo seu tom de voz, dava para notar que ele já estava um pouco impaciente. "Me desculpe senhor. Mas é que a Sabrina acabou de passar do portão principal " "O que ? Não é possível. Sabia que isso poderia acontecer a qualquer momento. " Ele suspirou um pouco desesperado. "Precisamos fazer algo. Algumas coisas das decorações já estão distribuídas por todo o terreno. Ela vai desconfiar. " "Eu vou tentar distrair ela para sair novamente. Mas vou precisar da sua ajuda Alice." "Minha ajuda? O que é para eu fazer? " Ela ficou um pouco confusa com aquela situação. "Preciso que se troque. Você é a mais nova daqui, vai ser uma boa companhia para ela." Ele respondeu rápido. "Mas para onde nós vamos? " Ela perguntou mais confusa ainda. "Eu pensei que podíamos ir para o clube no qual sou sócio. Lá temos vários esportes e coisas para fazer. Mas sei que não vou conseguir convencer ela a ir só comigo. Mas se estiver alguém jovem, talvez ela se anime." Ele falou pensativo. Telma está ainda mais nervosa. Isso seria muita imprudência deixar que Alice se aproxime da filha dela . "Você tem certeza disso Senhor? Não sei se é prudente isso." Ela falou entrando na frente de Daniel, que já estava prestes a sair pela porta. Ele suspirou fundo e quase revirou os olhos. "Eu tenho certeza. Se a Senhora tiver outra opção, me avise. Caso contrário, preciso que siga minha ordem, Alice." O coração de Alice estava em disparada. "Mas é claro. Preciso só de 5 minutos para me trocar e já encontro vocês." "Não demore por favor." Está foi sua ordem naquele momento, e saiu, ignorando a cara feia de Telma. "Garota. Lembre-se do que eu te falei. Precisa tentar manter distância." Ela disse quase em uma súplica. "Saia da minha frente senhora. Estou seguindo a ordem do nosso chefe. E preciso ir rápido." Ela também ignorou a cara feia de Telma. Alice correu para o quarto e vestiu uma calça e uma blusa regata. Nos pés colocou seu novo tênis, amarrou o cabelo em rabo de cavalo. Ela não tinha as melhores roupas. Mas aquela iria dar certo para passar o dia em clube de sócios, um lugar geralmente bem descontraído. Ela queria passar uma leve maquiagem, mas isso não daria tempo. Teria que salvar aquele aniversário e seu chefe estava contando com ela. "Filha!" Daniel dizia com animação ao chegar perto do carro. " Não sabia que você viria hoje." Ele falou abrindo a porta do carro. "Decidi voltar. Eu e a Geovanna acabamos brigando hoje. " Ela disse desanimada. "Vocês duas? Mas são tão amigas, o que aconteceu?" Sua voz parecia de quem não estava interessado em escutar a resposta. Beatriz estranhou a atitude do pai, que quase nunca perguntava sobre sua vida. "Qual o problema com você hoje?" Ela perguntou desconfiada. "Nenhum. Porque acha que tem algum problema." Ele estava claramente desconfortável. "Ok, você está estranho. Acho que vou entrar para tomar um banho e aproveitar a piscina." Isso era tudo que Daniel queria escutar e para completar ele avistou Alice correndo em sua direção. "Tenho uma ideia melhor. O que acha da gente ir no clube? Faz tanto tempo que não vai para lá, você tinha grandes amigos lá. " Beatriz revirou os olhos. "Eu não lembro mais daquelas pessoas. Não converso com elas e raramente elas vão. Na verdade aquele lugar é mais para velho como o senhor. ". Daniel sabia que já estava ficando velho, mas não gostava dessas palavras saíram da boca da filha. Nesse instante Alice chegou, tentando recuperar o fôlego. "Estou pronta, podemos ir ?" Ela disse com medo, sem saber ao certo se a garota tinha aceitado. "Quem é ela?" Sabrina disse desconfiada. Nunca nenhuma mulher acompanhou nem ela nem o pai. "Ela vai conosco. É uma das empregadas aqui, e achei que seria uma boa companhia para você." "Pai! Não tenho mais 5 anos, não preciso de uma babá." Ela disse descontente. "Ela não é sua babá. Só quero que seja uma companhia, assim você pode se divertir mais. " "Isso tudo está estranho. Não sei se estou gostando. " Ela falou batendo o pé. "Chega Sabrina. Vamos agora para o clube e não quero mais discussão " Sua voz saiu muito alta e brava, o que assustou as duas. "Mas…" A menina tentou argumentar. Mas sem sucesso. Daniel já estava entrando no carro. Beatriz não gostava muito de aceitar as ordens do pai. Mas ela tinha medo quando ele falava com autoridade. Alice se sentou no banco de trás junto à garota. E ficou em silêncio desde então. Os dois já estavam nervosos e se ela começasse a falar poderia piorar a situação. E ela estava feliz demais para estragar aquele dia tão diferente e especial. Pela primeira vez, Alice iria para um clube, onde só pessoas ricas e importantes participavam.