Após bater a porta. Daniel parou o que estava fingindo ler. As duas mulheres tinham saído e a confusão realmente cessado, o silêncio tinha voltado e ele estava completamente sozinho novamente. Mas sua mente não parava de pensar.
Ele nunca tinha visto uma jovem tão nova e frágil no seu quadro de funcionários. "Como é mesmo o nome dela? " Ele se esforçou para lembrar. "Alice ! Isso, Alice. Combina perfeitamente com ela. " Alice tinha o corpo pequeno, era baixinha, cabelos pretos e olhos verdes. Tinha algumas sardas no rosto e era branca como a neve. Se passasse muito tempo sem tomar sol, era confundida com uma doente anêmica. Ela tinha dificuldades em fazer qualquer trabalho braçal, já que foi criada com muitas regalias e com babás desde que era criança. Mas foi forçada a mudar sua vida para não ver mais os pais sofrendo, já que em sua casa, tudo ia de mal a pior. Daniel se incomodou. Era uma jovem que precisava de estudos, já que não estava fácil no mercado de trabalho. E não era justo, uma mulher que exalava jovialidade, ficasse esfregando o chão o dia inteiro. "Bom, mas isso não é problema meu. Não posso resolver tudo." Ele falou, tentando ignorar o fato que estava incomodado. Daniel saia quase todas as manhãs para correr no parque perto da Mansão. Mas aquele dia resolveu ficar, desistindo de seguir caminho assim que colocou os pés no gramado da Mansão, pela entrada dos funcionários. Por ter muitas coisas e documentos da empresa para analisar. Achou melhor resolver isso primeiro, voltando para o escritório sem que ninguém notasse sua presença. Assim, se alguém procurasse por ele, nem saberiam que estava ali, já que todos estavam muito alvoroçados pelo aniversário de sua filha no próximo sábado. Seria um aniversário surpresa de 15 anos, e como em comum acordo com os funcionários, ela não deveria saber de nada. Sabrina era uma jovem, que estava no auge da sua adolescência. Daniel sempre sentia falta da filha, mas parecia pouco se importar. A ideia da festa partiu da melhor amiga de Daniel, assim ele usaria o momento para tentar estreitar os laços com a filha. Ela estava dormindo na casa da amiga já fazia 3 dias, mas por não saber como a filha pensava, tinha medo de ela logo aparecer. Por isso deu ordem para que todos fizessem a faxina, no momento que ela não estivesse. Mas agora tudo parecia estar distante. Daniel só pensava em Alice e sobre como a vida parecia ser injusta com as pessoas. Ele teria condições de pagar uma faculdade para aquela jovem, mas ele não poderia fazer isso. Ele não podia dar suporte a todos que aparecerem ali com problemas de dinheiro ou familiar. "Chega Daniel, precisa se concentrar agora." Ele dizia para si mesmo Já na cozinha, Telma aproveitando que estava ali sozinha com Alice para chamar sua atenção. "Você está louca garota? Se fizer isso novamente, posso te mandar embora. Está me entendendo? " Ela dizia com raiva. "Em minha defesa, eu também não sabia que ele estava lá. Levei susto e passei vergonha assim como você. " "Insolente! Eu não passei vergonha. Mas maldita hora que pedi para você entrar ali. Agora vai passar o dia tranquila enquanto todos aqui vamos ter que trabalhar dobrado por sua causa. " "Não se preocupe. Posso trabalhar ainda, minha mão já está boa." Ela falou apertando a palma da mão. Telma olhou diretamente para a mão de Alice. "Não! Ele deu ordens diretas para você ficar de folga. E eu preciso de você amanhã. Então tente descansar e não faça esforço. Vou fazer o que? Se eu te colocar para trabalhar novamente e ele perceber. Ele vai acabar comigo. E já chega de brigas por hoje. " Ela falou suspirando desanimada. "A senhora quem sabe. Então vou me deitar, com licença." Alice se deitou no colchonete. Aquilo tinha caído na hora exata. Já estava cansada de trabalhar mais de 12 horas por dias, todos os dias naquela semana. Seu corpo estava dolorido. Mas ao menos o dinheiro estava aumentando em seu saldo, após tantas horas extras. Ela colocou o travesseiro embaixo da cabeça e pensou o quanto aquele dia tinha sido louco. Mas ainda estava ansiosa esperando chegar a noite para compartilhar tudo que aconteceu com sua nova melhor amiga, Samara. Ainda era cedo, quando Alice acabou dormindo exausta. Um longo dia de descanso. Ela dormiu pelo menos 13 horas seguidas e acordou de madrugada. Alice acordou com Samara olhando bem de perto. Ela também era jovem, mas não tanto quanto ela. A sua alma ainda era de uma adolescente e adorava fofocas. Enquanto Alice dormia, só se falava sobre isso na Mansão. Sobre ela ter sido promovida para ser a única responsável pela limpeza do terrível escritório, e por ela ainda ter ganho um creme de presente para curar seu machucado. Aquela casa tinha pelo menos 10 mulheres e 1 homem como funcionários. O único homem era responsável por todas as refeições. Já as mulheres eram responsáveis por manter o ambiente limpo. Fofocas era o que moviam elas no trabalho, e já fazia tempo que não acontecia uma novidade tão grande como aquela. "Nossa, você me assustou. Porque está me olhando assim? " Alice disse, esfregando os olhos." "Você está dormindo desde cedo aqui. Nem percebeu as vezes que te tocava para saber se estava respirando. " Samara dizia, Se acomodando ao lado de Alice. "E por isso decidiu que era melhor ficar me olhando assim. Como uma boba." "Não! Quero saber de sua boca o que aconteceu hoje. Fale o que aconteceu naquele escritório. Só se fala nisso. " Ela disse com expectativa. Alice deu uma risada e não se admirou pela fofoca já ter corrido por todos os lados. "Não aconteceu nada demais. Apenas que eu limpei o escritório e ele já estava lá. " "Me fala como ele é? Realmente é tão bravo como dizem, e é tão charmoso assim, para as mulheres sentirem inveja de você? " seus olhos estavam brilhando. "Isso é conto de fadas. Ele não é bravo, muito pelo contrário. Ele é muito gentil. " Ela falou passando uma mão na outra, se lembrando da mão quente dele passando o creme de forma tão delicada. "Ouvi dizer que ele até te deu um creme. Deixa eu vê?" Ela falou abrindo a mão. "As vezes você parece uma criança, e parece ter menos idade que eu. " Ela falou vasculhando no seu bolso, procurando o pote do creme. Alice estava tão cansada que nem mesmo o avental tirou. Ela entregou o pote na mão da amiga. "Acho que você é muito sortuda mesmo. Ainda vai se encontrar com ele diversas vezes no escritório. " "Pare de fazer fofoca. Vou entrar lá apenas para limpar. Não tem nada demais. Mas agora, vocês precisam parar de achar que ele é um monstro, acho que ele é só triste." "Você sabe que isso é culpa daquela velha. Não podemos nem mesmo olhar para o chefe, que ela já está lá brigando. Eu mesmo, estou aqui há quase 3 meses e o vi algumas vezes, mas sempre de longe. Não sei, às vezes acho que ela parece uma mãe super protetora." Alice riu, após se lembrar da bronca que ela levou dele. "Acho que ele não gosta muito disso. " Ela disse sorrindo. Samara abriu o pote e colocou um pouco do líquido espesso na mão. O cheiro refrescante subiu no ar. Alice sentia, e sabia que aquilo era muito familiar. "Acho que é um dos produtos que mais pai fabricava. " Ela pegou novamente da mão de Samara. "Se acalma! Eu não vou usar tudo. " Alice olhou a embalagem, e ali estava, todas as informações sobre o mesmo creme, mas agora com outro nome. Esse era um produto natural exclusivo de seu pai quando ele se aventurava na fabricação de cosméticos , que já tinha saído de circulação há muitos anos. Mas Alice não entendia bem como ainda estava ali, com o mesmo cheiro, os mesmos ingredientes e o endereço exato da fazenda de seu pai. Mas o nome do produto era diferente. Ela colocou novamente no bolso. Já que isso era uma pergunta que iria fazer diretamente para o seu pai. Ou para Daniel, caso o encontrasse novamente. "Me fala Samara. Você está aqui a mais tempo… Você sabe do que a mulher dele morreu? " Alice perguntou curiosa, após ver a foto da esposa na mesa dele. "Ela teve um aborto. " Samara dizia com pesar. "Morreu Ela e o bebê. Acho que ela tinha 23 anos ainda. A pequena Sabrina já estava com 5 anos. " "Esse não é um bom jeito de morrer. Ele deve ter ficado traumatizado. " Ela falou pensativa. "Sim! Dizem que foi por isso que ele ficou mais sério com tudo. Antes ele era diferente e muito divertido. Isso foi o que a Telma falou, você sabe… ela está aqui desde muito tempo." "Eu sei. Se tem uma pessoa que sabe o que aconteceu todos esses anos é a própria governanta. " Ela deu uma pausa e continuou. "Sabe porque ele não quis se casar novamente? Ele não é velho, e pelo dinheiro… deve ter aparecido muitas pretendentes. " "Até hoje aparece. Sempre chega presentes e cartas para ele. Mas ele não se interessa por mais ninguém, desde que a mulher morreu. Ele nunca apareceu com alguma namorada por aqui. " "Isso é um desperdício. Pra que ter tanto dinheiro, se só tem um herdeiro?" Ela disse suspirando. "Eu me pergunto a mesma coisa. Mas corre um boato que ele vai deixar boa parte para instituições de caridade. Mas outro filho, parece estar fora de planos. " Samara subiu para a cama de cima. Enquanto Alice tentou dormir novamente. Mas estava completamente sem sono. E achou melhor sair para tomar um ar e ver se ainda tinha jantar na cozinha. Já que ela pulou todas as refeições do dia.