O fim da tarde tingia os telhados da cidade com um dourado suave, quase melancólico. Na varanda da antiga casa de sua infância, Alice segurava uma xícara de chá morno e observava a mãe, que dormia em paz pela primeira vez em dias. O vento trazia o cheiro de terra molhada, e a brisa balançava levemente as cortinas do pequeno quarto.
Desde que havia retornado para cuidar da mãe, Alice passava os dias entre médicos, medicamentos e lembranças. A rotina era dura, mas também purificadora. As paredes da casa, ainda que humildes, pareciam falar com ela — lembrar quem ela era, de onde viera e o quanto já havia enfrentado.
Nos últimos dias, no entanto, algo havia mudado. Um pacote com remédios chegou sem remetente, exatamente os que ela precisava mas não podia pagar. Um valor alto apareceu pago no carnê do hospital. Até a conta de energia, que estava prestes a ser cortada, fora misteriosamente quitada.
Alice sabia. Mesmo sem nomes, sem bilhetes: era Daniel.
Ela não queria admitir, mas aquela aj