Alice acordou antes do sol nascer. O quarto onde dormia, outrora de seus pais, mantinha o cheiro da infância: madeira envelhecida, cortinas com perfume de lavanda e o rangido discreto do assoalho antigo. A mãe ainda dormia no quarto ao lado, respirando com dificuldade, mas em paz.
Nos últimos dias, Alice parecia viver em suspenso — como se a vida a tivesse deixado entre parênteses. Dividia o tempo entre cuidar da mãe, lidar com advogados e, quando a noite caía, permitir-se uma saudade que vinha silenciosa e implacável.
Enquanto preparava o café da manhã, ouviu cochichos vindo da varanda lateral. Eram as vizinhas — e, claro, as notícias sobre Daniel já haviam atravessado os muros da cidade.
"Ela saiu da mansão. Disseram que foi por causa de uma loira que apareceu lá de repente."
"Eu soube que o patrão anda mandando dinheiro por baixo dos panos pra ajudar a menina. Que homem faz isso por uma ex-funcionária, me diz?"
"E ela está correndo atrás da herança. Mas dizem que o terreno já tem d