O tempo parecia correr de forma diferente desde que Alice voltara para a casa onde crescera. As paredes carregavam memórias de um passado mais simples, mas agora pesavam sob o silêncio constante da ausência do pai. A mãe, fragilizada, ocupava boa parte de seu tempo e energia, e Alice mergulhava nos cuidados com ela como uma forma de fugir das perguntas sem resposta que a perseguiam.

O som do vento nas janelas, o cheiro da madeira antiga, o ranger do assoalho. Tudo ali contava uma história que não podia mais ser vivida, apenas recordada. Mas havia um conforto estranho em estar ali. Como se, na rotina silenciosa daquela casa, ela pudesse tentar costurar os pedaços de si mesma.

Mesmo assim, as noites continuavam longas demais. E quando deitava na antiga cama de solteiro, os olhos abertos na escuridão, Alice não conseguia evitar que a imagem de Daniel surgisse. O toque de sua voz, os gestos contidos, a forma como ele olhava para ela como se a enxergasse por inteiro. E então vinham os pens