A manhã de segunda-feira amanheceu fria e sem cor. Nuvens pesadas se acumulavam sobre a propriedade, e o vento batia nas janelas como se quisesse lembrar a todos que até os dias mais ensolarados tinham fim.

Alice se levantou com os olhos inchados. Dormira pouco e mal. Evitava pensar em Daniel, mas tudo na casa a fazia lembrar dele — a madeira polida do corrimão, a porcelana no aparador da sala, o cheiro suave de lavanda que parecia vir de suas camisas.

Ela escolheu roupas simples, voltou a usar o uniforme de faxineira, mesmo que não fosse mais obrigada. Telma ergueu as sobrancelhas ao vê-la assim, mas não disse uma palavra. Apenas registrou, como quem armazena munição.

No refeitório dos funcionários, os cochichos eram abafados, mas constantes. Uma delas, Carolina, falou um pouco mais alto que o necessário:

“ Parece que a patroinha caiu do pedestal.”

As risadas vieram rápidas, disfarçadas por tosses e garfadas.

Alice se sentou à parte, tomando o café em silêncio. Não era covardia. Era