A mansão dormia. O relógio do corredor marcava três e pouco da manhã, seu tique-taque ecoando como um lembrete cruel de que o sono não viria. Juan rolou de um lado para o outro, os lençóis embolados nas pernas, o corpo cansado, mas a mente ainda em chamas. A caixa de cartas de Ryan, que ele havia guardado na gaveta do escritório, parecia chamá-lo de longe, como se o papel tivesse voz.
Levantou-se sem barulho, para não acordar Ayla. Vestiu o roupão de algodão que já cheirava a café e noites maldormidas, e desceu para o escritório. O assoalho rangia em alguns pontos, sempre os mesmos, como se a casa tivesse memória própria.
Abriu a gaveta. A carta que Amanda lhe entregara estava lá, junto das outras. Juan a leu outra vez, com a mesma raiva de antes, mas agora havia algo diferente. Não era só ódio, nem só dor. Era uma sensação estranha de vazio. Quando terminou, ficou olhando para a letra do irmão, cada curva da caligrafia, como se pudesse ver Ryan ali, sentado na poltrona, com aquele so