O estúdio de dança ficava na rua Domingos de Morais, perto do metrô Vila Mariana. Amanda passava em frente quase todos os dias quando ia trabalhar, mas só entrou por insistência do seu sonho antigo, que não se cansava de repetir que ela precisava de algo novo, algo só dela.
Na primeira aula, ficou dura como uma tábua. O cheiro de madeira encerada, o som das palmas marcando o ritmo, os corpos soltos, livres… tudo a irritava. Ela se sentia uma fraude, uma mulher tentando parecer viva quando ainda carregava a sombra de Ryan grudada no peito.
As instruções do professor pareciam ecoar em um lugar distante, e Amanda se pegou pensando em como era fácil para os outros se moverem, enquanto ela se sentia paralisada. O olhar de desapontamento que ela imaginava que Ryan teria se a visse ali, tão desajeitada, a acompanhava como um fantasma.
Foi naquela noite que o viu pela primeira vez.
Ele se apresentou como Miguel. Tinha um sorriso fácil, não desses prontos de vendedor, mas daqueles que vinham a