Dedico esse livro para todas as emocionadas

que acreditam em amor à primeira vista.

Você nem imagina o quanto isso pode dar certo.

Prólogo - Lia Reed

Olho novamente para a santa da minha psicóloga e começo a falar mais rápido do que de costume, andando pela sala de um lado para o outro.

— Eu vou voltar para os Estados Unidos e ficar lá por seis meses, para a gravação desse filme. Como vou ficar sem as nossas sessões? Só elas fazem com que eu sinta o mínimo de normalidade em minha vida. Você sabe como sou, vou surtar e, provavelmente, fazer milhares de loucuras que arruinarão a minha carreira. Não posso fazer isso. — respiro fundo e ela me olha por cima dos seus oclinhos de meia lua, com um sorrisinho no rosto. Argh! — Vou fazer tudo errado, Patrícia. Torrarei todo o meu salário em bolsas e depois, irei me arrepender amargamente. Vou, sei lá, fazer uma tatuagem gigante nas costas e voltar casada, depois de um surto em Vegas. Está decidido, eu não vou.

Me sento novamente no divã, soltando um bufo alto enquanto cruzo os meus braços. Patrícia toma um gole da sua água e continua anotando tudo, ferozmente, em seu caderno.

— Minha querida Lia, você não vai fazer nada disso, eu tenho certeza. Esses gatilhos, nada mais são do que a sua cabecinha querendo te sabotar, porque conseguiu a oportunidade dos seus sonhos e está com medo.

— Quem, em sã consciência, não estaria com medo? Hello! — falo com uma voz afetada — É Hollywood, não posso simplesmente fingir que está tudo normal. Uma coisa é estrelar novelas, depois de ser considerada, sabe lá Deus porque, uma musa teen por vários anos seguidos no Brasil. Outra coisa é, simplesmente, assinar um documento e puff, ser contratada pela N*****x. Eu sou uma João ninguém lá. Além do mais, e se eu for considerada, sei lá, sem graça? Sem sal? Sem açúcar? — arregalo os olhos — E se eu for considerada sem expressão, Patrícia?

— Você é americana, Lia, não é um país desconhecido, nem uma língua desconhecida… — ela continua, com toda a sua calma, dando linha para que eu me enforque com minhas palavras — E ninguém, nunca poderá dizer que você não tem expressão, sabe que é um meme ambulante. É só olhar na internet. Você deixa todo mundo saber o que está pensando com essas suas caras e bocas. Francamente!

— Eu sei que eu sou americana. Mas faz muitos anos que eu moro aqui e, principalmente, muitos anos que eu não apareço nem em comercial de pasta de dente por lá. E isso é porque eu sou extrovertida naturalmente, mas e se o ar de Los Angeles me afetar e eu ficar tímida diante das câmeras e não conseguir me soltar?

— Mas ainda teria a influência do seu pai… ninguém poderia pensar menos de você, nem se você se esforçasse muito para que isso acontecesse. — ela continua argumentando.

— Papai nem é mais lembrado. Tenho certeza de que não existem privilégios por isso. — digo, com a voz embargada — Inclusive, isso me lembra da frustração e da saudade que sinto…

Emendo em outro assunto, esquecendo-me momentaneamente do elefante cor de rosa e tutu roxo no meio da sala.

A verdade é que, mesmo sabendo que tudo o que ela disse é verdade, eu estou apavorada, morrendo de medo e de ansiedade para fazer a minha estreia no ramo do streaming^[1]. Participar de novelas, séries, programas de televisão, além do assédio, no Brasil, é uma coisa muito grande, mas, ainda assim, é algo com que eu já estou acostumada.

Agora, um programa transmitido para o mundo todo? Tudo parece muito menos assustador quando não se tem o peso de ser um trabalho de visibilidade mundial.

Eu confio no meu trabalho duro, sei do meu potencial, ao mesmo tempo, penso: será que isso é suficiente?

Perco a linha de raciocínio por alguns segundos e quando escuto a sua frase, abro a boca em completo choque. Ela não pode ter dado essa última cartada. Essa traidora!

— … e não se esqueça de que você pode usar a sua carreira para desencalhar de vez e viver o seu felizes para sempre. O romance de tirar o fôlego que você tanto procurou e ainda não achou. — ela abre aquele sorrisinho sarcástico e eu cruzo os braços.

— Como você pode falar algo assim pra mim? — pergunto, chocada — Eu não quero não! Você está cansada de saber que pelo amor não se procura, ele te acha, dá uma flechada no seu peito e te rende. E, com certeza, isso não vai acontecer! Sou a prova viva de que o cupido brigou comigo. Aprendi isso da pior forma, porque, agora, tenho nove ex-namorados e um coração desiludido. Desde os quatorze anos procurando por um amor, um relacionamento atrás do outro. O pior de tudo, todos eles saíram usando minha fama de muleta e viraram os “ex da Lia Reed”. Estou traumatizada até agora com Felipe, que literalmente, ficou comigo por cinco minutos, até a mídia o descobrir e eu não ser mais necessária! Tô fora. Romance e amor são algo que eu acho que nunca vou encontrar de verdade. Todo mundo só me enxerga como alguém fácil de passar a perna, com dinheiro e certa influência. Cansei de sofrer por isso.

— Lia, você só teve nove ex-namorados porque ficou buscando, incansavelmente, pelo amor, custasse o que custasse. Essa sua carência de afeto, devido à morte do seu pai, está sendo tratada aqui, na terapia, e tenho certeza de que agora, mais madura, aprendeu a lição. — ela diz, deixando a prancheta de lado e apoiando os dois cotovelos em seus joelhos — Mas, não desista, minha menina. Ele existe e está te esperando em algum lugar.

— Difícil de acreditar, viu… — digo reticente, e seu relógio apita, anunciando o fim da sessão.

Suspiro e abraço minha psicóloga de longa data, pensando em suas palavras. Realmente, eu sou a pessoa mais azarada no amor, mas isso não quer dizer que nunca possa mudar, não é?

E, além do mais, vai que meu cupido resolveu fugir do Brasil e mora confortavelmente em Los Angeles, só esperando para me dar aquela flechada de jeito?